Uma prisão e seus domínios

Os textos de diferentes autores publicados nesta seção não traduzem, necessariamente, a opinião do site. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

2383prisao

Foto: Reprodução Google

Foram dias de grande expectativa. Para os a favor e para os contra. Parafraseando o réu, “nunca antes na história deste país” um ex-presidente foi preso por corrupção ativa e lavagem de dinheiro.  Por ser acusado de comandar o mais estrondoso esquema de propinas, beneficiando ao seu partido, aos da base aliada, com vistas à perpetuação no poder e ao enriquecimento ilícito.

O tamanho e o volume da corrupção não poderiam ficar impunes, eram notórios, e passaram a ser alvo de uma operação chamada Lava-Jato, que tem lavado a alma do brasileiro, tem higienizado a nação de uma forma inacreditável.  Um povo acostumado a ver de tudo em solo pátrio nunca pensou que, um dia, um grupo de delegados, procuradores, juízes, e magistrados da mais alta corte federal pudessem pôr alguma ordem no caos dos últimos tempos.

Acostumado a ver corrupção em toda parte, o cidadão perde a esperança, perde a crença em seu próprio país e em suas mais nobres instituições. Vê campear a impunidade e sente-se impotente para lutar, para tentar uma participação política que devolva ao povo a sua dignidade e o respeito aos seus direitos.

Foi uma prisão e tanto! Mobilizou forças e deu bastante trabalho. Foram empreendidos esforços policiais dos mais rígidos para que tudo corresse dentro da possível normalidade, apesar dos protestos, das manifestações contrárias à prisão do homem que não saía dos noticiários. Poderia ter sido um grande líder e entrar para a história como um estadista. Mas no decorrer dos seus mandatos e das ações partidárias, sucumbiu ao lastimável desvirtuamento ideológico e se deixou seduzir pelo poder a qualquer preço.

Recusou a oferta de se entregar no prazo estabelecido pelo senhor juiz. Ficou mais um dia na sede que abriga seus correligionários, inventou o evento religioso de uma “missa” para a data do aniversário da esposa falecida e conseguiu protelar um pouco mais. Não houve liturgia, mas uma celebração da Palavra.

Choque para os católicos tradicionais. O que faz o bispo ali, em meio àquelas bandeiras vermelhas e faixas pedindo a liberação do aborto?  A intenção era essa, provavelmente. Fazer da prisão um espetáculo inesquecível, provocador, sob a lavra dos discursos proclamados na confusão do momento.

Mas havia certa clareza na resistente situação. A prisão fora decretada e o réu teria de se entregar. O juiz o aguardava em Curitiba. A sede da Polícia Federal já havia preparado lá uma sala boa, digna, até mesmo usada para agentes de passagem pelo local.

Finalmente, o réu se entregou. De forma pacífica? Houve empurra-empurra, vai-não-vai? Adeus, até breve? Boa estada, companheiro? Acabada a resistência, sem derramamento de sangue, o ato se consumou. Um pouco dramático demais, diriam alguns.

Ver alguém ser preso não é algo bom. Nunca será. Em nenhum país. É sinal de que houve um crime, um delito, um ato de improbidade que deve ser reparado pela lei, pelo julgamento em tribunal, pela sentença condenatória. O fato é que um presidente (o nome vale para sempre, depois que se ocupou o cargo; questão de honra) foi conduzido à prisão, em carros policiais. Lá na Coreia do Sul, também a presidente foi condenada a uma pena de 24 anos e saiu algemada, direto para a cela. Altiva, mas com um semblante de quem admitia os crimes.

Em todo caso, a defesa vai até o último recurso, crendo na inocência do réu. Mas existe uma corte soberana e a última palavra é sua. Visivelmente, o nosso país vive a chamada “polarização”. O povo está dividido. Milhões contra e milhões a favor. Um desses uns é você, leitor. E mais uma vez, eleitor!

Deixe uma resposta