Velho ano novo

Os textos de diferentes autores publicados nesta seção não traduzem, necessariamente, a opinião do site. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

Não. Não há feliz ano velho e parece não haver nem mesmo feliz ano novo. Ano vai, ano vem, e as mesmas coisas estão aí: o perigo dos conflitos entre países, a crise mundial, violência e muita corrupção. Além de atiradores enlouquecidos que matam vidas ainda florescendo ou que praticam atos de terrorismo.

Feliz ano novo. Mas há nações em guerra civil, onde as insurreições não cessam. Israelenses e palestinos continuam em luta; há refugiados pelo mundo todo, à procura de um lugar para viver, catástrofes naturais deixando um rastro de desolação e milhares de desabrigados.

Como se faz para um ano ficar novo? Dar um belo polimento em 2015 e esfregar bem para ver se ele brilha? Passar lustra-móveis, aplicar gliter, purpurina, colar estrelinhas cintilantes?

Parece que o tal do “ano novo” está dentro de nós, começa lá no fundo do nosso coração. Não se faz um ano novo somente com um cartão de lindas palavras, champanhe, abraços e fogos de artifício. O que é novo e bom nasce de nobres ideais, construído com a luta e a força do bem.

Nada será novo se o coração for velho. É preciso uma renovação profunda em muitas áreas de nossas vidas e de nosso ambiente exterior, para se construir um ano novo, quiçá um mundo novo.

Se alguém muda, o mundo muda. Se uma pessoa passa a ser sensível e consegue estender suas mãos para o próximo, tal gesto será causa de grande transformação! Que mudança formidável, quando, acostumados com a rotina, conseguimos enxergar o outro, sua dor, seu sofrimento, suas necessidades.

Se alguém pensou em começar o ano novo partilhando, esse ganhou o céu. Olhar nos olhos das pessoas quando se fala com elas, acolher, entender e aceitar o outro como ele é, como ele pensa e como ele vive. Ó, que ano novo!

A paz nasce de gestos pequeninos, porém concretos, significativos, poderosos. A paz de um ano novo, ou de um mundo novo, não vem de graça. Ela tem de ser engendrada, conquistada, passo a passo, pois não há outro caminho senão o da fraternidade, do respeito, da solidariedade e do amor.

Sem amor, nunca teremos nada novo. Um ano será sempre velho, repetido na miopia de líderes mundiais que almejam apenas o poder pelo poder. Ainda que todos os homens falassem a língua dos anjos, sem amor, nada seríamos. Sem amor, não se põe tijolo sobre tijolo, e nada se constrói de físico para morar, ensinar, educar, cuidar, sarar, gerir.

Como se faz a gestão do amor? Será preciso primeiro educar uma geração de pessoas capazes de se doar, de se permitir ser bom e humano. Estamos num deserto de vida. Ao nosso redor, há medo, violência, cidadãos trancados em suas casas. Corações e mentes precisam estar abertos para uma nova produção de sonhos, de ideais, de programas políticos com força para nos levar ao sonhado ano novo.

Não há glória sem justiça, sem paz. Ah, caro leitor, me perdoe o desabafo. Não me ache pessimista. Não sou. Ninguém, mais do que eu, desejaria finalizar este texto desejando um “feliz ano novo!”.

Deixe uma resposta