Veredas existenciais

Os textos de diferentes autores publicados nesta seção não traduzem, necessariamente, a opinião do site. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

GreenBook-still2

Foto: Reprodução Google

A sensação de não pertencer a nenhuma cultura ou lugar é o que torna “Green Book-Um Guia para a Vida”, de Peter Farrelly, um grande filme. Essa questão está além da jornada pelo Sul dos EUA de Don Shirley, um virtuoso pianista negro (Mahersahla Ali), com seu trio, que contrata um motorista branco, Tony “Lip” Vallelonga (Viggo Mortensen).

A narrativa, baseada numa história real, ocorrida em 1962, em plena luta pelos Direitos Civis sob a presidência de John Kennedy, tem o sabor especial de colocar em cena um personagem três vezes vítima de preconceito, por ser negro, homossexual e artista, em qualquer ordem que se deseje colocar esses fatores.

Don, que estudou música clássica na Rússia, não se encontra como negro: não come galinha frita e não conhece ícones coo Little Richard ou Aretha Franklin. Portanto, não é reconhecido pelos pares. Também não é aceito integralmente pelos brancos, que o veem quase como aberração ou curiosidade e o aceitam pelo talento, mas não como ser humano.

É esse personagem, em busca de si mesmo, que rouba o filme. Vallelonga, por sua vez, ilustra o americano do bairro do Bronx, de origem italiana, que, nascido e criado em meio ao preconceito, vai, na jornada pelo Sul, aprendendo a olhar o mundo de maneira renovada. Nessas veredas existenciais, ambos se tornam pessoas melhores.

Um símbolo muito interessante do filme está nas mãos. As delicadas do pianista geram emoções junto ao teclado e são a sua resposta ao mundo. As do motorista são utilizadas para dar socos e resolver tudo à força. Quando as estratégias da delicadeza e da impetuosidade se encontram, o resultado se torna surpreendente.

Deixe uma resposta