Vinte e cinco

Os textos de diferentes autores publicados nesta seção não traduzem, necessariamente, a opinião do site. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

Participo de movimentos populares desde os anos 80 – áureos tempos dos centros comunitários e organizações de bairro. Conseguimos muita coisa e fizemos grandes avanços com trabalho e persistência. Quanto abrir mão do descanso e eventos familiares para participar de reuniões, encontros, embates e exaltadas discussões a fim de fazer valer nossas demandas. Foram anos e anos de luta. Mas valeu, conseguimos interferir nos rumos da cidade. A contragosto dos políticos, o movimento popular se impôs e deu cartas. Piracicaba virou referência em organização comunitária; modelo de mobilização e participação da população na coisa pública e na geração de líderes. Dentre eles elegemos prefeito e vários vereadores, que dignificaram o nome da cidade. Nada a ver com hoje. Administrações tucanas (Thame, Humberto, Barjas) tinham pavor de povo organizado. Fizeram o movimento popular morrer de inanição. Na cabeça elitizada de tucano, povo organizado não é parceiro, é ameaça.

Vendo agora manifestações de rua, tenho a impressão que a maioria quer mudança no grito. Pensam que é só ir a rua berrar e algum milagre vai acontecer. Sabem pouco porque o pouco que lêem ou ouvem mostra um só lado dos fatos; de nada participam que lhes abra a cabeça. Vi pela internet policiais em SP fazendo continência em homenagem às manifestantes pró impeachment. Um mico. Até selfies faziam porque nunca viram polícia de perto. Bem diferente dos moradores da periferia, onde a policia sempre vai, e chega atirando, prendendo e baixando cacete.

Essa gente quer alguém que faça por eles. Era Joaquim Barbosa. Agora é Moro, o líder da massa mentecapta – a mesma que eleva e despedaça. Massa não tem raciocínio e está nem aí com o coletivo. Tendo vida boa e estômago cheio, dane-se o resto. Dos manifestantes em São Paulo no dia 13 de março passado, 65% ganham entre cinco e 50 salários mínimos. (Folha 14.03.16). Reclamam de quê?

Só para se ter uma idéia, em São Paulo 25 cidadãos morreram soterrados na última enchente. “A gestão Alckmin tem ‘gasto zero’ em ação para morador em área de risco. Dos R$ 65 milhões previstos para reassentamento nos últimos cinco anos, nada foi gasto. Em drenagem e combate a enchentes investiu 57% do previsto”. (Folha 12.03.16). 25 mortes, inclusive de crianças. Uma tragédia para derrubar governantes. Quem se importou? Ia me esquecendo que corpo de pobre tem a mesma cor do barro.

Falando em governador de São Paulo, ele disse que a crise hídrica está superada no Estado e “decretou” seu fim. A Sabesp quer acabar com o desconto para quem economiza, assim como da sobretaxa para gastões.  Dizem que se médico se acha Deus, juiz tem certeza. Parece que Alckmin também. Segundo ele: “A questão da água está resolvida, porque já chegamos a quase 60% do Cantareira e 40% do Alto Tietê. Isso é água suficiente para quatro ou cinco anos de seca”. Vai esperar secar tudo de novo?

Segundo Silvia Gobbo, professora de Ecologia da UNIMEP: “O cenário pintado pelo governador não é tão promissor como ele quer transparecer. É necessário iniciar a recomposição da mata ciliar e nas cabeceiras dos rios, depois é preciso promover o tratamento de esgoto em todas as cidades e por fim, diminuir as perdas de água na etapa de distribuição”. (JP 16.03.16). Portanto, o governador, de novo, falta com a verdade.

Vejam essa notícia: “Corte de água já atinge 60% dos moradores de São Paulo. Paulistano faz estoque e culpa governo pela crise. Porém, se a eleição fosse hoje, ele teria 50% dos votos válidos na cidade. 85% dos seus eleitores votariam nele de novo”. (Folha 20.10.14). Foi o que aconteceu. É essa a massa que saiu às ruas dia 13 passado. Dá para entender? Essa gente banca políticos mentirosos como este. E é nisso que eles apostam.

Deixe uma resposta