Viver a vida…
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Deus terá preparado algo grandioso para cada um de nós. Ainda que muitos não acreditem, eu acredito. Creio firmemente que cada um carrega sua missão neste mundo e aqui está por alguma razão. Creio também que nada acontece por acaso. Há um sentido e um propósito em tudo o que nos acontece, sobretudo com relação às pessoas com as quais cruzamos. Ou que cruzam nosso caminho, feliz ou infelizmente.
Logo depois que fiquei viúva, fui a uma consulta médica e o doutor, muito gentil, sabendo do passamento do meu marido, disse: “Então, ele se foi. Mas você ficou porque sua missão aqui ainda não terminou”. Deixei o consultório, entrei no meu carro e aquilo não saía da minha mente: minha missão aqui ainda não terminou.
Nossa missão neste mundo é viver a vida. Nascemos, tivemos nossa infância querida (nem todos a tiveram assim…), passamos pela bela juventude dourada, que nos encheu de sonhos e um dia nos tornamos adultos para sempre. Vem a fase da maturidade, do casamento, dos filhos e depois os netos, num ciclo perfeito, que vamos cumprindo agradecidos e maravilhados.
Viver a vida é também estar atentos à nossa volta e não perder um momento sequer onde possamos aprender algo e crescer como pessoas. Borges dizia que, se pudesse voltar atrás, teria dado mais voltas no seu quarteirão, pisado em folhas secas, visto mais vezes o pôr-do-sol, contemplado o céu…
O papa Francisco também diz coisas lindas, que se referem a uma vivência plena da nossa existência como seres humanos. Devemos amar mais, sorrir mais, perdoar mais. Não nos preocuparmos tanto com os problemas. Não dormir pensando nas nossas contas…
Ah, meu Deus, como tudo isso é importante! Não passar indiferente a um raro jardim com rosas. Onde estão as roseiras de antigamente? Não se vê mais a fachada das casas, a maioria com muros altíssimos e portões eletrônicos. Temos agora a arquitetura do medo e do aprisionamento. As casas são fortalezas para enfrentar um tempo violento. Quem vai se dar ao trabalho de cultivar um jardim? Bastam os muros e alguns pinheiros verdes para atenuar a dureza da pedra.
Talvez você sinta falta das rosas e dos jardins. Agora, eles existem secretamente, nos condomínios fechados. Minha casa da infância tinha um terraço gracioso, dois bancos de madeira com pés de ferro e uma trepadeira vistosa que dava florinhas cor-de-rosa, delicadas. Quem passava na rua parava pra olhar. Meu pai tinha orgulho do jardinzinho em frente à casa e eu, menina, varria as folhas vadias sob um céu arrebatador.
Viver a vida!… Ter a esperança de que alguém em particular atenda o meu pedido humilde e compre para o seu cão a coleira antilatido. Apenas isso, meu Deus! Para que tenhamos paz dentro da nossa casa, e nosso coração não passe por esta arritmia de fundo emocional, causada pelos anos de sofrimento e luta. Paz e Bem!