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Eu gosto. Eleições para mim é festa cívica. Tive poucas dificuldades até hoje para escolher ou rejeitar candidatos; sei o que quero para meu país. Muitos nos quais votei não se elegeram, mas não me importo; o que vale é a paz da consciência, que nasce do dever cumprido e do bem realizado.  Algumas vezes tive que votar no ruim para evitar o pior.  Nem sempre é como a gente quer. Por outro lado, aqueles que com meu voto ajudei a eleger, apesar dos erros fizeram a diferença.

Tenho muito claro que o bem para mim desejado deve ser para todos. Não tem como viver alegre rodeado de sofredores. Acho que enquanto houver descontentes e injustiçados não existirá paz. Esse papo de mais polícia, armas, câmeras, presídios, redução de maioridade penal é conversa de quem sabe nada do assunto. Armas pacificaram o Oriente e os morros do Rio?  Os EUA, que armam até suas crianças, além de viver sob constante ameaça terrorista, têm a maior população carcerária do planeta. Isso não é sintomático?

Quem não sabe o que quer da própria vida, espera o quê da nação? De que parâmetros se valem essa gente para escolher os que vão receber a sagrada missão de servir o país por quatro anos ou mais? Pilantra para se eleger precisa do voto de outros pilantras, úteis ou esclarecidos. A “santaiada” vê justificada sua omissão pela coisa pública quando eclodem denúncias de corrupção. Antes de taxar política como coisa suja deveriam saber que a ocasião não faria o ladrão se já não trouxesse no coração sementes de cobiça. “A cobiça acaba com o cobiçoso”. (Pv 1, 19).   Quem sai do túmulo cívico a cada dois anos para cumprir a ‘obrigação’ de votar não merece o país maravilhoso que Deus nos deu.

Segundo Joaquim Barbosa, ex-ministro do STFF “Todas as engrenagens de comando no Brasil estão nas mãos de pessoas brancas e conservadoras”. (Folha de São Paulo 07.10.12). Mesmo assim vejo o Brasil melhorando cada vez mais. Diminuiu a população pobre. Na Educação, por exemplo, embora a base precise evoluir muito, o acesso ao ensino superior tornou-se amplo inclusive no exterior, diferente do meu tempo. Pessoas madrugavam nas portas do então INSS para conseguir consulta médica. Quem não era segurado tinha que se virar. Remédios só comprando ou pedindo. Doenças simples acabavam em óbito. Não era fácil conseguir emprego. Morria-se no trabalho por falta de equipamentos e por condições insalubres. Lembro-me de operários sentados na calçada desenrolando guardanapos das marmitas que de casa traziam. Nem refeitório as empresas ofereciam. Seguro desemprego nem em sonho. Raras as mães que trabalhavam fora. Casa própria poucos tinham, era mais aluguel. Financiamento para gente pobre nem pensar. Andar de avião talvez se convocado para alguma guerra. Passear no exterior só os milionários. Assistência não era direito, era benemerência. A maternidade e a infância pouco recebiam de proteção oficial. O Juizado de Menores catava molecada de rua e a levava para o Fórum onde havia uma cela. De lá saiam com a cabeça raspada e a orelha zunindo. Em São Paulo, certa vez, chegaram a “despejar” crianças de rua em outros municípios, peladas e famintas. Idosos, doentes e deficientes sem renda ficavam à mercê da caridade pública. A seguridade era contributiva. Até dentro dos ônibus se fumava e ninguém ligava.  As condições de higiene eram precárias e havia esgoto a céu aberto. A fuligem da cana queimada assentava até no prato de comida.

“As mudanças e avanços no Brasil são inegáveis”. (Joaquim, Barbosa Idem 07.10.12). O mundo também melhorou: “Há boas razões para acreditar que vivemos no mundo menos violento de todos os tempos. O mundo está se tornando um lugar cada vez mais seguro para viver, e a raça humana se mostra cada vez menos violenta”. (Steven Pinker, psicólogo evolucionista da Universidade de Harvard. Folha 07.04.13).  Ora, essas mudanças aconteceram graças à mobilização popular e ao esforço de políticos comprometidos. Portanto, apesar dos maus e de suas maldades é o bem que faz a história. Dizer que político algum presta é ridículo. Um povo educado elegerá dirigentes honestos e competentes. Estes escolherão os melhores assessores. Com um povo inculto acontece exatamente o inverso. Um povo educado não tolera corrupção.

Há ainda muito por fazer e pessimismo não ajuda. Segundo o dramaturgo Augusto Boal – “Cidadão não é aquele que vive em sociedade: é aquele que a transforma”. Mãos à obra, portanto.

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