Vou-me embora para Marte

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Marte

Foto: Reprodução Google

Recentemente, um amigo escreveu num desabafo: “Vou-me embora pro Butão”. E aí não sossego enquanto não busco informações a respeito. Bem, o Butão é considerado o país da felicidade. Diz o Google que “oButão é um pequenino reino encravado aos pés do Himalaia e bastante fechado ao turismo. Ao norte, a gigantesca China e ao sul a superpopulosa Índia. É distante do Brasil. Poucas pessoas conhecem. Exótico. Feliz. País de tradições peculiares e muito isolado”.

Não sei se eu gostaria de ir para o Butão. Desde menina, intriga-me uma música que até hoje gosto de cantar. Foi composta pelo baiano Dorival Caymmi e se chama “Maracangalha”. A letra é bem simples e diz assim: “Eu vou pra Maracangalha, eu vou / Eu vou de uniforme branco, eu vou / Eu vou de chapéu de palha, eu vou / Eu vou convidar Anália, eu vou”. E se Anália não quiser ir, ele vai só.

Vemos que, quando alguém mete uma ideia na cabeça de ir a algum lugar, se não houver quem o acompanhe, vai só mesmo. Contudo, é melhor ter companhia, a viagem fica mais segura a dois. Até biblicamente, devemos ir sempre aos pares.

Mas e aí, Maracangalha existe de verdade? Afinal, para onde Caymmi iria? A música foi composta em 1957. Quanta gente a cantou! O lugar é um distrito do município de São Sebastião do Passé, na Bahia. O que haveria de tão especial em Maracangalha? E Anália? O chapéu de palha? Meros recursos da rima ou tudo isso faria parte de uma planejada viagem de amor?

Houve um tempo em que a moda era dizer “Vou-me embora pra Pasárgada”, do poeta Manuel Bandeira. Onde ele foi buscar inspiração? Pasárgada era uma cidade da antiga Pérsia, atualmente um sítio arqueológico na província de Fars, no Irã. Mas o poema ficou famoso e tem uns versos assim: “Vou-me embora pra Pasárgada / Lá sou amigo do rei / Lá tenho a mulher que eu quero / Na cama que escolherei”.

Quando comecei a aprender violão, adorava cantar uma cantiga gaúcha: “Vou-me embora, vou-me embora, prenda minha / Tenho muito que fazer / Tenho de ir para o rodeio, prenda minha/ No campo do bem-querer”. Ah, o desejo de ir para algum recanto que nos faça sonhar! Versos como “vou-me embora” povoam o imaginário de todos os poetas. Eu gostaria de dizer: “Vou-me embora pra Israel”, pois tenho um sonho de conhecer a Terra Santa. Talvez ficar por lá, ajudando os frades franciscanos a cuidar dos templos e locais sagrados.

Contudo, sei que não irei para o Butão, Maracangalha, Pasárgada e tampouco para Israel. Há alguns anos, eu dizia: “Vou-me embora pro Campestre”, mas agora moro na cidade e o campo faz parte de um passado lindo.

Essa ideia de ir embora pra algum lugar querido, sonhado, desejado, é algo que nos inspira o tempo todo. Eu adoraria me mudar para uma praia deserta, uma vila de pescadores, onde haja o pôr-do-sol mais lindo do mundo! Para viver meus últimos dias ao som da música atlântica, suas notas cheias de sal e de amor.

E Marte? Será moderno dizer “vou-me embora para Marte”? O que haverá por lá? O Google diz que Marte possui uma formação rochosa e parece haver água no planeta. O dia dura 24 horas e 36 minutos e o ano tem 687 dias terrenos. Em 1960, Sergio Murilo gravou “Marcianita”. Alguém se lembra? Na letra da música, em 10 anos estaríamos lá. Ainda estamos na corrida. Para onde?

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