SANGUE INÚTIL

Esta seção está disponível à população para a discussão dos interesses da comunidade, incluindo sugestões, reclamações, etc. Basta enviar-nos um e-mail através desta página. A redação reserva-se o direito, no entanto, de avaliar a autenticidade dos conteúdos e a pertinência da publicação. Informamos, ainda, que os textos aqui publicados não traduzem, necessariamente, a opinião do site.

Texto de Antonio Carlos Danelon:

Segundo a imprensa local e pessoas presentes, o jovem que atentou contra a vida do monsenhor Jamil no dia 19 de agosto passado disse estar agindo a serviço de Deus.

Só na cabeça dele. Aliás, é difícil negar que algo divino tenha feito a faca se quebrar. Mesmo assim, não haveria algo de verdade na fala do perturbado jovem? Além de acordar uma Igreja que dorme o que esse trágico fato quer nos dizer?

Comecemos pelo jovem. Segundo a mesma imprensa ele sofria de esquizofrenia. Provavelmente passava por momentos de delírios de grandeza e ou perseguição. A mãe procurou ajuda com os vereadores tentando internação, sem sucesso. Óbvio que esse não é serviço de vereador; exceto quando um precário e seletivo sistema forneça ocasião para somar votos. Não à toa a professora de psicologia da PUC, Maria de Fátima Franco dos Santos, entrevistada pelo mesmo jornal afirmou “Podemos ver também a falência de nosso sistema de saúde. Se tivéssemos um serviço eficiente, o jovem poderia ter recebido orientação e cuidados adequados a tempo”. (JP 21.08.12).

Por que esse jovem estava sem acompanhamento médico? Dos 14 anos de prefeitura como assistente social, os últimos – 2009 e 2010 – trabalhei na Proteção Especial da Secretaria de Desenvolvimento Social. Presenciei o drama das mães pobres com familiares vítimas de doenças mentais. Viviam continuamente dopados os que conseguiam algum tipo de acompanhamento, de um só médico, diga-se de passagem, que chegava a atender (?) 70 pacientes ao dia. Em vez do doente, um profissional desse tipo serve e sustenta um sistema de saúde mental falido, e por tabela agrada ao gestor da fazenda pública, que prioriza visibilidades e não pessoas.

Existe o Centro de Atendimento Psicossocial – CAPS II no bairro Bela Vista. Porém, a maioria dos doentes não consegue se locomover desacompanhada, e seus familiares precisam trabalhar. Quanto custaria à prefeitura oferecer condução adequada ou regionalizar as atividades? Não é para isso o dinheiro público em primeiro lugar? CAPS III não existe, o Infantil está lotado e o AD fica quase no sítio. Para piorar, apesar de bons e comprometidos profissionais, raramente as equipes são completas.

Quanto à Igreja, irônico foi o fato ter ocorrido no ano em que a Saúde Pública é tema da Campanha da Fraternidade, que na diocese de Piracicaba acaba na coleta. Todo o ano é o mesmo faz de conta. Assuntos importantes são postos à reflexão visando mudança de mentalidade, porém acabam virando fumaça. “Que a saúde se difunda sobre a Terra” nem é mais falado; aliás, pouco foi. De gesto concreto quase nada. Bem longe do que Jesus fez no seu tempo, nossa Igreja – que optou pelos pobres – se calou para alívio dos responsáveis pelo descaso que impera nesta área em nossa cidade.

Não é essa a Igreja da minha juventude, de Dom Paulo, Dom Pedro, Dom Luciano. Viramos uma igreja que precisa cada vez mais de dinheiro, pois quanto mais longe do Evangelho mais cara e pesada fica. E quem carrega esse fardo são os leigos, que dentro da hierarquia dificilmente têm voz e vez. Nossa Igreja não incomoda ninguém e nem acredita que as portas do inferno podem nada contra ela.

O que poderia ser o grito dos que morreram nos prontos-socorros de Piracicaba e dos doentes mentais trancados em casa ou perambulando pelas ruas a caça de suas miragens, se perdeu por falta de profetas que saibam ler os acontecimentos. O sangue do sacerdote serviu para nada, senão para fazê-lo mártir do descompromisso de sua própria Igreja e das elites desta cidade, cada vez mais materialista e insegura. Como sempre – e não havia alternativa – perdoou seu algoz, que além do fardo que já carrega, de vítima virou réu. Em vez de tratamento, foi para a cadeia, donde sairá monstro, e como medida de segurança a diocese instalará câmeras na catedral.

E fim de papo porque a “vida” continua.

1 comentário

  1. José Antonio Roncato em 09/04/2013 às 12:18

    O senhor precisa parar de ofender a Igreja e seus Pastores.

    Se tem algum desafeto, por favor, dê nome aos bois. Pelo jeito alguém lhe fez algum mal imperdoável. O que seria por demonstrar tanto ódio?

    Que petulância dizer que a "SUA IGREJA" é a "IGREJA de DOM LUCIANO, DOM PEDRO E DOM PAULO".

    Lastimável um assistente social agir como na época em que o Apóstolo São Paulo chamava a atenção dos que diziam pertencer à "Cefas" à "Apolo" etc.

    Dois mil anos se passaram e o senhor não aprendeu NADINHA de NADA.

    Abraços.

Deixe uma resposta