Santo nome em vão

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Na primeira sessão após as eleições, a maioria dos vereadores que ocupou a tribuna foi para agradecer principalmente a Deus por permanecerem no cargo.

Sou ninguém para falar em nome de Deus, mas deve ser constrangedor ser invocado como avalista da conduta desses vereadores. Teria Ele provado essa torração de dinheiro que vimos na campanha? Teria Ele ajudado políticos que lêem a Bíblia no plenário, mas não praticam sua palavra e passam quatro anos fazendo assistencialismo visando à reeleição?

Falar, então, que Deus quer a perpetuação de alguns no cargo beira o ultraje. Sentiria o Senhor confortável na boca de quem aumentou o próprio salário para 11 mil, se com 6 dá para ter uma vida boa, sendo que a maioria dos trabalhadores, muito mais necessários, vive com 10% disso?

Aprovaria Deus uma legislatura que – grosso modo – se submeteu a uma administração que governou com os ricos e para os ricos, e matou até as menores iniciativas de participação comunitária; que não se indignou quando cidadãos morreram nos prontos-socorros e não moveu um dedo para exigir mais respeito com os doentes; não se preocupou com a acessibilidade dos portadores de necessidades especiais e não se condoeu com os doentes mentais, que nesta cidade parecem invisíveis; não se comoveu com o desespero de pais pobres cujos filhos – crianças ainda – foram tragados pelas drogas e nem com mães obrigadas a acionar a Justiça para conseguir vagas nas creches; nunca chamou atenção do executivo por exibir troféus enquanto crianças dos bairros mais carentes nem bola tiveram para brincar; não abriu a boca quando a administração priorizou o carro particular e a população se espreme em ônibus sem conforto, e nem perdeu o sono com o destino dos 19 mil cidadãos que deixaram o Barão sem a tão sonhada casa própria, naquele dia ironicamente sorteada por políticos donos de terras e mansões?

Deixem de hipocrisia, senhores vereadores. Certamente Deus não precisa de quem quer que seja para levar adiante seu plano, pois mesmo totalmente livres como somos para fazer o mal, sua infinita sabedoria conduz o mundo para o bem; tanto que o bem sempre vence, e diariamente poderosos são derrubados dos seus tronos.

“A quem muito foi dado, muito será pedido”. (Mc 12,48). Pensem que o Senhor está dando uma nova chance para vocês se redimirem e se colocarem entre os vitoriosos de fato, porque até agora serviram o rei errado. Em vez de tomarem seu santo nome em vão, façam o que Ele realmente espera. Mandou seu Filho para que todos tenham vida e a tenham abundantemente. O Evangelho fala TODOS, não só vocês e seus padrinhos.

Produzir automóveis, ser referência mundial e brilhar no cenário nacional e internacional como modelo de gestão e crescimento econômico não refresca nada se a administração governa e vocês legislam sem a participação da sociedade, e se ainda existe entre nós exploração, pobreza, injustiça, violência, criança sem cuidados, presídio lotado, gente sem teto, lazer e segurança. É com isso que vocês têm que se preocupar e não com a permanência no cargo.

“Melhorai vossa conduta e vosso modo de agir para que Eu possa habitar convosco neste lugar”. (Jr 7,3).

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