Festanças e tradições caipiracicabanas: Batuque

*Artigo e fotos/imagens  retirados do livro “Piracicaba, a doçura da terra”, de Cecílio Elias Netto.

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FESTA DO DIVINO – Foto: Fabio Rubinato

Entre alguns, são quatro as grandes personalidades paulistas que cuidaram de preservar o riquíssimo folclore caipira, o de São Paulo: os notáveis caipiracicabanos Alceu Maynard de Araújo e João Chiarini, o brilhante caipivariano Amadeu Amaral, reveladores da alma cabocla ao lado do icônico Mário de Andrade. Não por acaso, apenas Mário de Andrade era paulistano; os demais, todos da região caipiracicabana. Antes deles, o folclore surgia apenas como algo pitoresco, quase que exótico, ligado ao rural. Folclore é, porém, muito mais do que isso: conjunto de instituições, costumes, comportamentos, patrimônio material e espiritual.

Em todo o interior paulista, as festanças e tradições caipiras começam a ser revividas. Muitas delas se perderam, outras quase se extinguiram. No entanto, há reações positivas como se a memória do povo se aguçasse à medida que a perda da identidade, causada também pela chamada globalização, deixasse os povos inseguros. Os “caipiras” – ainda que muitos confundam, até propositalmente, a moda “country” com o sertanejo – estão de volta. Com suas danças, bailados, cantigas, rondas infantis, adivinhas, lendas, rezas, procissões, festas, instrumentos musicais, bebidas, remédios caseiros, rituais. Especialmente, as festanças populares.

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FESTA DO DIVINO – Tradição centenária em Piracicaba / Foto: Fabio Rubinato

Batuque

No folclore caipira, é dança de terreiro, com o uso de instrumentos como o tambu, mulemba, matraca, guaiá. A região “batuqueira” de São Paulo – que começa a ser reativada – localiza-se no nosso Vale do Tietê Médio, com municípios tradicionais cidades reconhecida e  orgulhosamente “caipiras”: Tietê, que sempre foi tida como “capital batuqueira”, Porto Feliz, Laranjal, Pereiras, Capivari, Limeira, São Pedro, Itu, Tatuí. E nossa amada Piracicaba, herdeira e zeladora de toda essa cultura.

O batuque é dança de origem africana. Ao contrário das danças primitivas, que são de roda, o batuque se faz em duas colunas, de homens e mulheres frente à frente, que se defrontam, dando umbigadas. O batuque é conhecido, também, como umbigada. Como ritual, é visto como “dança da procriação”, por causa da sensualidade explícita entre homem e mulher. Por isso, pai e filha não podem “dançar o batuque”, não podem “dar umbigada”. Nem padrinhos com afilhadas. Soaria como algo incestuoso. Se, por descuido, isso acontece, a filha ou afilhada se desculpa: “a bênção padrinho”.

O batuque, ao tempo da escravatura, foi muito combatido pela Igreja Católica que ainda não o vê com bons olhos.

 

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BATUQUE DE UMBICADA – Apresentação do Grupo Centro de Documentação, Cultura e Política Negra / Acervo CDCPN

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