Num canto, o pranto de Newton de Mello

Newton-Mello–

Este livro é, para mim, um espaço do qual faço um altar de devoção. À minha terra, à vida, aos privilégios que vivi, vendo e ouvindo, participando. Insistirei até a última página, nesse perpassar da memória, de lembranças. Rendo graças por ter-me deixado fascinar por minha terra, nesse mistério para mim luminoso.

Conheci e fui muito próximo de Newton de Mello – o autor da canção imortal, que o Brasil canta, a “Piracicaba que eu adoro tanto…” – aos meus 21 anos, em 1961. O professor Newton visitava-me todas as tardezinhas, como se mergulhasse em sua hora nostálgica, a das Ave-Marias. Ele morava na casa do mais humano dos médicos que conheci, o doutor Antônio Cera Sobrinho. (Transformei o Doutor Cera num personagem principal de meu livro “Bagaços da Cana”, um sofrido Doutor Antoninho)

Newton de Mello – sofrido, cansado, decepcionado, dominado pelo álcool – ia contar-me histórias de sua Piracicaba, a que ele “adorou tanto”. E queria que eu as guardasse na memória. Foi um dos meus inspiradores para dedicar-me a transmitir essa história – “traditio”, transmissão.

Realmente, “ninguém compreende a grande dor que sente / o filho ausente a suspirar por ti” – nesse morrer longe daqui. Mas venho propondo um adendo, em homenagem aos que não se ausentaram: “ninguém compreende o grande amor que sente, a nossa gente a suspirar por ti.”

Hino de Piracicaba foi composto em cinco minutos

Composta por Newton de Almeida Mello Campos, sendo dele também a letra, a canção “Piracicaba” foi transformada em hino oficial do município pelo prefeito Adilson Benedito Maluf, em 1975, através da Lei nº 2.207. A harmonização da música foi feita
pelo maestro Carlos Brasiliense e a canção retrata com fidelidade o amor que o cidadão piracicabano tem por sua terra natal.

A música nasceu em Rafard, na Fazenda Itapeva, onde Newton de Mello estava, saudoso de Piracicaba. Tudo foi rápido, a música surgindo de um repente. E, na noite do mesmo dia, 9 de setembro de 1931, em Piracicaba, com os amigos no antigo Bar Giocondo – na atual Praça José Bonifácio, onde está o Unibanco, ao lado da Brasserie – cantou pela primeira vez a canção.

Em 1975, ao Almanaque de Piracicaba daquele ano, Newton de Mello revelou que: “a letra e a música dessa despretensiosa canção foram compostas, simultaneamente, em cinco minutos. Outras composições minhas, nas quais havia trabalhado por vezes dias a fio, não me saíam boas como esta parecia estar. Retive-a na memória e, como na noite do mesmo dia me encontrasse em Piracicaba, entre velhos amigos, cantarolei-a para eles. Surgiu logo um violão. Aprenderam em três tempos e houve um geral entusiasmo que, de certo modo, me lisonjeou.”

[Estes conteúdo e imagem foram retirados do livro “Piracicaba que amamos tanto”, de Cecílio Elias Netto. Saiba mais sobre esta e outras obras do autor.]

1 comentário

  1. Maria Lucia em 20/04/2021 às 10:39

    Dr. Antônio Cera era também nosso vizinho no centro da cidade. “Trouxe “ ao mundo considerável centenas de cidadãos até década de 50, talvez. Minhas memórias de menina em Piracicaba contemplam com afeto as escolas públicas, muitas famílias e amigas meninas, a Catedral, o comércio na rua Governador, e vizinhos queridos. Em uma a duas décadas, e outro gênero humano , e o mundo interno fisga “ outro planeta”. Parabéns escritor Cecilio Elias Neto pelo privilégio de manter décadas de memórias, voz, e meios de comunicação.

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