Quando enchentes eram alegria

*Artigo e fotos/imagens  retirados do livro “Piracicaba que amamos tanto”, de Cecílio Elias Netto.

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Enchentes e estiagem do Rio Piracicaba – o rio sagrado – fazem parte de nosso cotidiano, de um calendário por assim dizer mágico. Pois a exuberância e a melancolia da natureza – nas enchentes e na estiagem – estão em nossas vidas como herança ancestral. O rio entristecido na seca, o rio fascinante na época “das cheias” – isso é prova da veracidade de uma lenda que nos acompanha desde as origens.

Os deuses das matas dizem que uma jovem índia apaixonou-se por um moço lindo e louro, ainda que bronzeado pelo Sol que nos bafeja. Foi, porém, um amor condenado. E a indiazinha – amargurada e infeliz – atirou-se nas águas do Salto, deixando-se lá sepultar. Por isso, em noites silenciosas, ouve-se o gemido sofrido da Noiva submersa. Ela está à espera de seu grande amor. Assim, alguém sempre terá que morrer para que as águas do rio se avolumem. E, também, morrer para que elas baixem. Há, todos os anos, alguém pronto a se sacrificar em busca da ressurreição da Noiva tão desejada.

Por isso – com exceção das grandes e furiosas enchentes – pescadores, moradores da Rua do Porto rejubilam-se quando as “águas sobem”, mesmo que lhes inundando as casas. Na alma de todos – e de uma cidade – há uma palpitação ancestral na crença de os deuses das matas estarem abençoando-nos.

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