Serestas e seresteiros
*Artigo e fotos/imagens retirados do livro “Piracicaba que amamos tanto”, de Cecílio Elias Netto.
Na Piracicaba que amamos tanto, as noites – além da beleza de nosso crepúsculo, do céu pintalgado de estrelas maliciosas – pertenciam aos seresteiros. Ou seja: uma cidade feita de amores escancarados, mesmo que, muitas vezes, proibidos. Havia uma lei não promulgada, mas consensual: moça – que não recebesse seresta – não sabia o que era o amor.
As noites piracicabanas eram embaladas por sons de violões, de violinos, de marimbas, por vozes suaves e apaixonadas. Para a moça amada, roubavam-se rosas e outras flores nos jardins das residências. Não era de bom tom comprar flores; era preciso furtá-las. Os donos dos jardins fingiam não saber, para não estragar o romantismo dos seresteiros apaixonados. Ao som da seresta, a amada acendia e apagava a luz, sinal de estar ouvindo as melodias e sonhando sonhos de amor. Muitas vezes, os pais – vestindo pijamas e camisolas – abriam as portas das casas, oferecendo café, bolos e bebidas. Pois seresteiro que se prezasse tinha que beber pelo menos “um rabo de galo”.
O mais famoso seresteiro do final do século 19 e início do 20 foi o gordo e negro Sebastião Salgado, acolhido com respeito e carinho pela aristocracia piracicabana, num tempo de escancarados preconceitos raciais. Inimitável no violão, Salgado – além de seresteiro apaixonado – tocava e cantava em saraus familiares, em festas, em bares, encantando as pessoas com as suas modinhas.
Imortais, também, na história das serestas piracicabanas, foram, entre outros, Cobrinha e Pedro Alexandrino. A tradição é mantida de maneira atualizada: agora, são as “Noites das Serestas”, no Largo dos Pescadores. Que encantam a população. E, em especial, os jovens, como se fossem tomados de nostalgia do que não conheceram.