Lançamento – Livro aborda história da classe operária em Piracicaba

Caipiras, uni-vos! uma breve história da classe operária em Piracicaba no século XX. Este é o recém-lançado livro da historiadora Fabiana R. de A. Junqueira, que aborda a história dos trabalhadores de diferentes categorias no município de Piracicaba. A obra foi apresentada ao público em agosto passado, pela Editora CRV, e pode ser adquirida pelo site da editora: www.editoracrv.com.br

Caipiras, uni-vos! recupera a história dos trabalhadores em Piracicaba. “Busco compreender o passado, a partir da perspectiva e das experiências dos próprios operários” disse a pesquisadora. Com extraordinário aporte documental – como atas dos sindicatos, jornais locais e do estado, prontuários do Departamento Estadual de Ordem Política e Social (o antigo DEOPS), processos trabalhistas, fotografias e até entrevistas com operários –, a historiadora Fabiana Junqueira analisou as experiências individuais e coletivas dos trabalhadores da alimentação, têxteis, metalúrgicos, entre outras categorias, no município e suas ações por direitos e melhorias no mundo do trabalho.

A greve de 1917 e outras mobilizações em Piracicaba

O livro traz a análise das principais greves de trabalhadores no decurso do século XX, entre elas, a greve geral de 1917, que paralisou, entre outras fábricas, o Engenho Central de Piracicaba e a tecelagem Arethusina – nome da antiga fábrica Boyes. De acordo com a autora, nessa época, os operários e operárias trabalhavam entre 14 e 16 horas diárias, sem direito aos finais de semana e a férias remuneradas. Os obreiros de Piracicaba se uniram aos de outras cidades brasileiras, em 1917, na reivindicação das jornadas de oito horas e pelo aumento salarial de todos os trabalhadores, que sofriam, naquele período, os efeitos da Primeira Guerra Mundial (1914-1918).

A autora

Fabiana R. de A. Junqueira é graduada (2011) e Mestre (2014) em História pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Atualmente desenvolve o Doutorado em História Social do Trabalho na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) com tese dedicada ao passado dos trabalhadores metalúrgicos no município. O livro Caipiras, uni-vos! uma breve história da classe operária em Piracicaba no século XX trata de diferentes categorias de operários e é o resultado das pesquisas que a autora está realizando no processo de doutoramento, que deverá ser concluído em 2023. A autora é natural de São Bernardo do Campo, na grande São Paulo.

Prefácio do escritor Cecílio Elias Netto

A obra conta, ainda, com o prefácio do escritor e jornalista piracicabano Cecílio Elias Netto. Cecílio, na juventude, também trabalhou como advogado para alguns sindicatos no município. Para ele: “a notável obra da jovem historiadora é um espelho refletindo com realismo incrível a luta da classe operária e de parcela do povo piracicabano em defesa da liberdade, da dignidade e dos direitos humanos”.

Com a palavra, Fabiana

“A Província” conversou com Fabiana, para conhecer um pouco mais de sua pesquisa e experiência para a produção do livro. A seguir, a entrevista.

Como se interessou pelo tema?

Eu me interesso pela história dos trabalhadores desde os primeiros anos da faculdade. No mestrado, estudei os metalúrgicos da capital. Foi durante esse período que percebi que os grandes centros urbanos, como São Paulo, já haviam sido contemplados com inúmeras boas pesquisas sobre a classe trabalhadora. No interior do estado, ao contrário, havia uma grande carência de estudos sobre a classe operária. Inicialmente pensei que esse quadro fosse um reflexo da escassez de documentos de períodos mais remotos – o que não é, necessariamente, um impeditivo para realizar um estudo sobre esse tema, mas cria uma dificuldade para o historiador. Quando visitei os sindicatos em Piracicaba, definitivamente percebi que esse não era o caso. Há muitos documentos preservados e uma gama infinita de possibilidades de estudo! Foi nesse momento que decidi me debruçar sobre a história daqueles que trabalharam no chão das fábricas do município.

Quais foram suas principais fontes de pesquisa?

Pesquisei várias fontes em diferentes arquivos. Li mais de 2 mil documentos do Departamento Estadual de Ordem Política e Social (o antigo DEOPS) no Arquivo Público do Estado de São Paulo. Esses documentos, além da visão dos policiais e delegados sobre os trabalhadores, nos oferecem informações sobre as perseguições sofridas pelos operários no município. Além dessas fontes, analisei muitas atas de reuniões dos sindicatos de Piracicaba, fichas de sócios, particularmente dos metalúrgicos, assim como processos trabalhistas. Para acompanhar o desenvolvimento das greves, por exemplo, utilizei matérias dos jornais locais e do estado e para entender um pouco mais das experiências individuais e coletivas da classe obreira, recorri a entrevistas com trabalhadores e com lideranças do movimento operário/sindical da cidade.

Como você compatibilizou pesquisa bibliográfica e histórias de vidas diretamente impactadas pelos acontecimentos daquele momento histórico? 

A ideia central do livro é observar a história a partir da perspectiva dos trabalhadores. No entanto, história e memória são coisas distintas e nem sempre a forma como um operário lembra de determinado acontecimento do passado corresponde à análise que o historiador faz desse evento. Cabe ao historiador analisar parte dos documentos produzidos em um determinado período histórico e os depoimentos orais – geralmente produzidos muitos anos mais tarde – considerando as suas especificidades, mas com igual respeito. Sem hierarquias.

O que foi mais marcante para você no processo de pesquisa e construção do livro?

Acho que observar como pessoas comuns mudam os rumos da história é sempre marcante. É comum pensarmos que, por estarmos no interior, nossas ações são menos impactantes do que se estivéssemos nos grandes centros urbanos, como no município de São Paulo. É também comum pensarmos que, pelo fato de não ocuparmos uma profissão valorizada na sociedade, como é o caso do operário, nossas ações não são capazes de mudar o mundo. No entanto, quando um operário piracicabano paralisou o Engenho Central até que fossem concedidas 08 horas de trabalho em 1917, ele contribuiu para que a mobilização que começou em São Paulo atingisse âmbito nacional. Vale dizer que as jornadas de trabalho eram de 14 ou até mesmo 16 horas diárias naquela época!

Há especificidades referentes a esse momento histórico em Piracicaba, em contraposição a outros contextos brasileiros?

Sim, há várias especificidades do movimento operário em Piracicaba. Aqui nós tivemos grandes usinas de açúcar e importantes metalúrgicas operando em um mesmo espaço, o que favoreceu a ação conjunta dos trabalhadores da lavoura (colonos da cana) e das fábricas nas greves e outras mobilizações. No entanto, eu acredito que não precisamos sempre buscar especificidades ou pioneirismos para avaliar a importância do município. No que tange ao movimento dos trabalhadores, creio que também é importante lembrarmos que os operários de Piracicaba se uniram aos da capital e aos de outras cidades brasileiras em lutas que trouxeram ganhos para todo o país – a batalha pela democracia, por exemplo.

Gostaria de destacar algo?

Bem, eu gostaria de destacar que, embora “Caipiras, uni-vos!” seja o resultado das pesquisas que venho desenvolvendo no Doutorado, não escrevi esse livro pensando apenas no público acadêmico. Em Piracicaba, muitas pessoas tiveram um pai que trabalhou na Dedini ou uma tia que trabalhou na Boyes, o livro foi escrito para que essas pessoas pudessem conhecer um pouquinho do passado compartilhado por muitos operários e operárias do município. Escrevi esse livro também para os trabalhadores e eu realmente desejo que eles gostem! Como eu mesma digo no livro, essa singela contribuição não pretende dar conta de toda “a” história do movimento operário em Piracicaba. Trata-se apenas de “uma” e “breve” história da classe obreira. Espero que muitas outras sejam ainda publicadas por vários outros historiadores…

Serviço

Caipiras, uni-vos! uma breve história da classe operária em Piracicaba no século XX. Livro pode ser adquirido pelo site da editora: www.editoracrv.com.br ou diretamente com a autora, pelo e-mail: [email protected]

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