A Piracicaba de Guilherme Vitti

santana

Bairro de Santana

Esse texto foi publicado em 2002 pelo Memorial de Piracicaba, de Cecílio Elias Netto. Recuperamos para lembrar os 30 anos de atuação na cidade.

Ele é ainda a memória viva de Piracicaba. Sempre solicito e extraordinariamente lúcido, aos 90 anos Guilherme Vitti fala sobre Piracicaba com conhecimento de causa. Nascido no bairro de Santana, descendente de italianos (tiroleses), conheceu várias fases de Piracicaba, vivenciando diretamente seus problemas.

Foi vereador de 1948 a 1951, trabalhou na Prefeitura Municipal como secretário do Prefeito em várias administrações, iniciando com Luciano Guidotti e aposentando-se com Adilson Benedito Maluf. Foram 20 anos de Prefeitura, sem nunca ter tirado férias ou faltado.

Até recentemente, foi o responsável pelo arquivo da Câmara de Vereadores. Trabalhava em uma sala pequena, lotada de livros e atas do Legislativo. Quando fala de seu trabalho, seus olhos azuis brilham demonstrando todo o carinho que tem pela cidade e pelo seu trabalho. Foi seminarista em Rio Claro, no Colégio Santa Cruz dos Padres Estigmatinos, por mais de 10 anos. Lecionou latim em diversas escolas de Piracicaba.

Prefere lembrar da Piracicaba dos anos 40 e 50. “Era uma cidade mais tranquila e procurava as novidades e o progresso. Tudo girava em torno da Metalúrgica Dedini. Os jovens tinham como lazer ir ao Cine Broadway, ao Teatro Santo Estevão, depois ao Teatro São José e, também, passear na Praça José Bonifácio. As mulheres caminhavam em um sentido e os homens em sentido contrário. Foi desta maneira que conheci minha esposa, Maria José dos Santos Vitti. Aliás, muitos casamentos tiveram início nestes passeios pelo jardim”, lembra, com saudade.

Naquela época, Piracicaba era servida por bondes. Eram três linhas: uma para a Paulista, outra para a Escola Agrícola (Esalq)e a terceira servia a Vila Rezende. “Quando íamos ao teatro ou ao cinema usávamos a nossa melhor roupa. Todos estavam alinhados e com chapéu. Quando os espetáculos no teatro e as sessões de cinema eram de dia – após seu término – nós ficávamos andando na Praça José Bonifácio conhecendo as moças. Quando os espetáculos eram noturnos – sempre com início as sete horas e com o final lá pelas nove – rapidamente nós íamos pegar o bonde, que ficava lotado com gente pendurada nas laterais, pois o serviço era encerrado às 10 horas e ninguém queria voltar a pé para casa”, explica Guilherme.

O Restaurante do Japonês, na Praça José Bonifácio, (onde até recentemente esteve instalada a Brasserie) era o ponto de encontro da juventude na época. “Como eu fui acostumado no seminário (lá a ordem era: ‘Não comer nada fora do horário’) eu não conseguia comer nada no Restaurante do Japonês, mas frequentava o local como todos naquele tempo”, revela.

As festas religiosas eram importantes para a população. “A Festa do Divino, as quermesses das igrejas sempre reuniam bastante gente”, garante. Na zona rural o café estava sendo substituído pela cultura de cana-de-açúcar. “Os pés de café estavam ficando velhos e com isso a cana começou a ser introduzida em Piracicaba”, destacou.

Além da Dedini, havia a Fábrica de Bebidas Orlando e muitas carpintarias famosas como a Nardin. Guilherme Vitti lembra: “Era um tempo gostoso. A Prefeitura só trabalhava à tarde. Eu lecionava latim no Colégio Piracicabano de manhã e à tarde trabalhava na Prefeitura”.

Guilherme Vitti nasceu no bairro de Santana no dia 25 de julho de 1915. Filho de José Vitti e Angelina Vitti. É professor de latim e português com registro definitivo para lecionar em todo o País, concessão feita pelo Ministério da Educação. Foi autor de várias obras literárias: “Manual da História de Piracicaba”; “Manual da História de Piracicaba em quadrinhos”; os 10 primeiros volumes de “Atas e Ofícios da Câmara de Piracicaba” editados pelo Jornal de Piracicaba; “A Imigração da Família Vitti para o Brasil”, editada em dialeto trentino; traduções de cartas latinas vindas do Vaticano; versão latina do livro “Saudade”, escrito pelo piracicabano Thales de Andrade, e do livro “Jeca Tatu”, de Monteiro Lobato; tradução para o português de várias cartas de Madre Paulina, canonizada recentemente; “Gramática Latina Sintética” em tabela e discos e o “Histórico do Bairro Santana com suas tradições ancestrais”.

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