Proac, Governo do estado de SP

Quadrar jardim

Praca-Jose-Bonifacio

Na Praça José Bonifácio, formavam-se três círculos de jovens quadrando o jardim. (foto: acervo Cecílio Elias Netto)

As cidades eram o lugar de viver. E, por viver, entendia-se a busca de, pelo menos, se sentir feliz. E sentir-se feliz era estar com a família, com os amigos, com vizinhos, numa cidade pacífica, amorosa, acolhedora. Há que se sonhar com o infinito. No entanto, para sonhar é preciso ter sonhos. Em Piracicaba, podia-se sonhar, amar, alegrar-se e sofrer, ter esperanças e desanimar – mas com a certeza de estar-se num ninho. E quadrar jardim era como que a condição necessária para ir-se em busca do sonho.

Acontecia preferencialmente aos sábados. E lá estava – naquela concentração de jovens – um dos retratos das já conhecidas e absurdas diferenças sociais. As moças formavam círculos, de duas em duas, caminhando pela praça em filas que rodavam, rodavam em torno do jardim principal, na Praça José Bonifácio. Era, na verdade, como que ofertas para se escolher. E formavam três círculos: o primeiro e mais amplo, de estudantes das escolas mais conhecidas, caminhando em sentido anti-horário; o segundo, de moças mais simples, mais distante dos olhares, andando em sentido horário; o terceiro, mais escondido, o das jovens operárias. Todas “quadravam jardim”, mostrando-se aos olhares cobiçosos e ansiosos dos rapazes.

Mariana – naquele 31 de outubro de 1954 – estava “quadrando jardim” quando, trêmulo, mas corajosamente, lhe enviei um bilhetinho, convidando-a a conversar comigo. Na volta seguinte, ela me sorriu, aceitando. Ela tinha 13 anos e eu, 14. E Mariana me deu, ao longo da vida, cinco filhos, bênçãos de nossas vidas. “Quadrando jardim”, a vida se abriu para nós dois.

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