Grito do Ipiranga

As artes piracicabanas foram marcadas por um patrono que alcançou admiração e respeito nacional, Miguel Arcanjo Benício de Assunção Dutra, o Miguelzinho, cujos trabalhos passaram a ser disputados em todo o País. Em 1841, Miguelzinho executou os desenhos que circundam o primeiro mapa da cidade de São Paulo. Crê-se que sua maior contribuição à história paulista e brasileira foram suas 72 aquarelas que retratam vistas, tipos populares, projetos para decoração, festas típicas e paisagens rurais de Itu, Piracicaba e de dezenas de cidades paulistas, além, é claro, de São Paulo. As aquarelas encontram-se hoje no Museu Paulista (Museu do Ipiranga).

Miguelzinho foi também o construtor do primeiro museu sacro de que se tem conhecimento no Brasil, que ele próprio manteve em anexo à Igreja da Boa Morte.

Grito do Ipiranga

Grito-Ipiranga_Acervo-Museu-Paulista-USP

(Obras: Acervo Museu Paulista/USP)

A obra “Grito do Ipiranga”, também conhecida como “Independência ou Morte”, de 1888, foi produzida pelo pintor paraibano Pedro Américo, um ano antes da Proclamação da República e depois da Guerra do Paraguai, episódio responsável pela decadência do Império. Encomendado por D. Pedro II, mostra seu desejo de manter-se no poder, querendo reforçar para a elite da época a importância da casa de Bragança na construção de uma identidade nacional.

O quadro foi feito 66 anos depois da independência por um pintor que nem era nascido em 7 de setembro de 1822. Morando em Florença, Itália, quando recebeu a encomenda, Pedro Américo veio ao Brasil estudar o cenário que deveria retratar e, baseado num desenho de Miguel Dutra (Vistas do Ipiranga, 1847), o mais antigo documento iconográfico do local e, posteriormente, indo até as margens do rio Ipiranga, onde pôde observar a construção de um imóvel, produziu sua tela.

A obra é composta por figuras e composição de cena nada fiel à história. A edificação conhecida como Casa do Grito era, na verdade, uma venda que atendia a tropeiros, cujo primeiro registro é de 1884, não existindo, portanto, na ocasião da independência. A tropa, em uniforme de gala, não corresponde aos poucos militares em uniforme comum que faziam a segurança da comitiva de D. Pedro no 7 de setembro, bem como os cavalos mostrados diferem das mulas, mais fortes e adaptadas para a viagem de subida da serra de Santos para São Paulo.

Pedro Américo, que estudou e viveu na Europa na segunda metade do século XIX, já tinha executado outras pinturas no estilo nacionalista romântico como A Batalha de Campo Grande (1871), Fala do Trono (1873) e Batalha do Avaí (1874).

[Estes conteúdo e imagem foram retirados do livro “Piracicaba, a Florença Brasileira”, de Cecílio Elias Netto. Saiba mais sobre esta e outras obras publicadas pelo ICEN.]

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