Maria Helena e Heleninha, o outro lado da medalha (3)

Time XV

O time do XV que as consagrou e que acumulou títulos. Em 1966, Maria Helena era camisa 9 e Heleninha, camisa 5.

Técnicas consagradas, mas ainda mulheres

Foram, então, os primeiros anos como técnicas das escolas públicas. Todas as finais dos jogos colegiais eram a mesma coisa: o time de uma contra o time da outra. Era realmente uma nova fase, um ciclo que se fechou com a venda da Casa do Bolinha, por um valor muito superior ao real, uma proposta irrecusável de onde elas garantem que veio muito do patrimônio atual. E veio a UNIMEP, os postos de técnica e assistente se alternando, a seleção brasileira, o BCN, a conquista maior, já como técnicas no último Pan-americano. Porque a medalha de ouro das Marias jogadoras viera exatamente 20 anos atrás: também num 12 de agosto, como agora, contra o time também de Cuba, justamente num Pan-americano.

Mas, no fundo, não parecem ser estas as vitórias que mais importam a ambas. Os olhos se enchem de lágrimas quando elas falam das milhares de crianças e adolescentes que estiveram sob seu comando, especialmente aquelas que não foram jogadoras famosas, mas que ainda hoje lhes escrevem lembrando do que ficou da convivência, dos ensinamentos dados nas quadras, das lições de vida compartilhadas. Falam da emoção também, das mulheres maduras, com seus 50 anos, que as param nas ruas, falando do que representa a elas a vitória de uma mulher independente, num mundo masculino, quando a vida toda seus sonhos não puderam ser realizados por causa de casamentos, de opressões, de ilusões partidas pelo meio. E contam dos melhores abraços, dos garçons, das crianças, de gente do povo, que quer dividir uma alegria da vitória, que é absorvida e vivenciada por cada um.

Maria Helena e Heleninha, no fundo, não se sentem reconhecidas profissionalmente. Sentem-se amadas como pessoas, sentem-se valorizadas por Piracicaba. Mas se sentem olhadas e tratadas, no mundo masculino do basquete, com outros referenciais também por serem mulheres.

Mas são momentos de mágoas. Porque talvez, nada as defina melhor do que a letra de uma música que suas atletas cantam, muitas vezes nas quadras, escrita por uma ex-companheira de basquete:

Jogar, joguei

Hoje ensino prá vocês

Não me espantei de chegar onde cheguei

Eu não parei,

Só paro se morrer,

Em vocês me eternizarei.

(continua)

Esta matéria foi originalmente publicada no jornal impresso “A Província”, na edição de 10 a 29/agosto/1991. Para conhecer o texto na íntegra, acompanhe a TAG MariaHelena Heleninha.

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