Memória – Centro Cultural Martha Watts (2)

Reproduzimos, em capítulos, um pouco da história da missionária metodista norte-americana Martha Watts e do Colégio Piracicabano – trajetórias que influenciaram a educação do Estado de São Paulo, no final do século XIX. Este conteúdo foi reunido na publicação que comemorou a inauguração do Centro Cultural Martha Watts.

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Miss Martha Watts, no centro, com alunos do Colégio: dedicação missionária às crianças e ao ensino.

Martha Watts chegou a Piracicaba em 1881, aos 36 anos. A missionária norte-americana tinha um objetivo claro: fundar a primeira escola metodista no Brasil, o Colégio Piracicabano – que se tornaria referência para a educação do Estado de São Paulo no final do século XIX. Miss Watts conheceu Piracicaba já num contexto republicano, o que facilitou a aceitação de suas ideias inovadoras.

A proximidade da República também era acompanhada pelo crescimento da Maçonaria e da abertura do país aos estrangeiros, num movimento que conquistava a elite local. Mas o Império ainda resistia e lideranças católicas se preocupavam com a “invasão” dos protestantes.  A reação dos católicos foi intensa, motivando a defesa do novo Colégio por parte das autoridades locais.

A missionária foi recebida pelos líderes republicanos da cidade, Prudente e Manoel de Moraes Barros, que haviam solicitado, a um pastor metodista, uma educadora para a cidade. Os irmãos Moraes Barros queriam uma escola inovadora, em contraposição à educação do Império, que eles consideravam retrógrada. E Martha Watts imprimiu, ao Colégio, as modernas ideias humanistas da época. Também abolicionista, ela alforriou uma escrava, Flora, contratando-a para trabalhar no Colégio, antes mesmo da Abolição de 1888.

Novidades em sala de aula

 Isso tudo seria traduzido numa educação talhada por valores cristãos, focada no estímulo à capacidade de pensar e refletir do aluno, conduzida por professoras estrangeiras, com capacitação incomum para a época. E com atenção especial às mulheres, que passaram a ter acesso às disciplinas restritas aos homens. Outra de suas grandes inovações foi a classe mista. Na época, as escolas da cidade ainda mantinham as classes com separação entre os sexos. Até um observatório foi construído no telhado do novo prédio para o estudo da astronomia, também acessível à comunidade.

Este foi apenas o começo da história reconstruída no livro “Vieram e Ensinaram – 120 anos do Colégio Piracicabano”, da jornalista Beatriz Helena Vicentini. Mas, a primeira a registrar essa trajetória foi a própria Miss Watts, por meio de significativa correspondência a seus superiores nos Estados Unidos.

Financiando a educação metodista no Brasil

 Em seu livro, a jornalista chama a atenção para as forças motrizes da educação metodista no Brasil: “Martha Watts não chegou a Piracicaba por simples acaso. E também não foi por acaso, ou por seu simples esforço, que o Colégio prosperou: havia uma política de incentivo a investimentos norte-americanos no país e, também, os metodistas entendendo tratar-se de uma oportunidade ímpar ao final do século XIX, para cá enviaram vultosos recursos financeiros. Foram de tal ordem que, percentualmente, puderam ser comparados às verbas despendidas em toda a Província de São Paulo na área de educação. Dentro desse objetivo, era preciso alguém forte e empreendedor. Martha Watts era essa pessoa muito especial…”

Miss Watts foi enviada pela Sociedade Missionária de Mulheres Metodistas dos Estados Unidos (Woman`s Missionary Society), que financiou missões educativas nos países mais pobres, com foco na educação de mulheres. A organização implantou muitas escolas metodistas no Brasil, efetivando a construção do primeiro prédio do Colégio Piracicabano – agora restaurado para abrigar o Centro Cultural Martha Watts.

Leia em outros capítulos um pouco da história da missionária metodista norte-americana Martha Watts e do Colégio Piracicabano, seguindo nossa hashtag Memória Martha Watts.

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