Legado: Jornal de Piracicaba chega aos 120 anos (3)

Uma mulher à frente do seu tempo, Antonietta tinha ‘paixão’ pelo JP

Antonieta

Segundo Meg, Antonietta tinha pulso firme e era extremamente atenciosa com todos. (foto: Arquivo/JP)

Uma mulher completa. É essa a definição da diretora do Jornal de Piracicaba, Antonietta Rosalina da Cunha Losso Pedroso, morta em 2011, nas palavras da jornalista Maria Elisa Guerra Tumang, a Meg. Ela conta que a amizade já existia antes de sua entrada no jornal, em 1974. “Já éramos muito amigas, sempre fomos”.

Meg lembra que Antonietta sempre foi à frente do seu tempo e era uma mulher muito ativa. “Ela tinha uma personalidade forte, falava baixo, era muito sagaz, inteligente e muito culta. Ao mesmo tempo, era uma mulher de pulso forte e uma excelente administradora”, afirma. “O jornal era a paixão da vida dela e ela assumiu a direção após a morte do pai (Fortunato Losso Netto)”, destaca.

Outra característica marcante da diretora, segundo a jornalista, era o fato de ela não fazer diferença entre as pessoas. “Ela tratava sempre muito bem os funcionários, da mesma forma que tratava os amigos”, compara.

Companheiras de Viagem

Meg conta que, por serem muito amigas, fizeram muitas viagens juntas. “Quando ela ia a convenções, como presidente da Associação de Jornais do Interior no Estado de São Paulo, sempre me chamava para ir junto com ela”, lembra.

Em uma das inúmeras viagens que fizeram juntas, Meg conta com saudade e bom humor do tour pela Europa, há cerca de dez anos. “Cruzamos de carro Portugal, Espanha, França e Itália, Antonietinha adorava dirigir. Mas quando chegamos a Andorra, o carro começou a pegar fogo, paramos na estrada, um homem que estava atrás brigou com a gente, depois ele foi ver que não tinha água no radiador, nós falamos que não sabíamos que tinha de colocar água, ele nos ajudou e resolveu o problema”, conta, acrescentando que esse foi o único momento de tensão da viagem.

Ainda durante a viagem, as amigas tomaram um banho de gasolina ao tentar abastecer e tiveram de dormir uma noite no carro pois não tinham feito reserva em hotel. “Quando estávamos voltando, já na Espanha, ela inventou de irmos para o Marrocos, eu disse que não iria, que ela fosse só, eu fiquei desesperada, não aguentava mais viajar, sentei no chão e liguei chorando para o meu marido dizendo que queria vir embora”, conta às gargalhadas, acrescentando que Antonietta logo desistiu da ideia de estender a viagem.

Em outra ‘aventura’, desta vez pelo Nordeste brasileiro, a dupla estava no hotel quando Antonietta decidiu tomar um banho de banheira antes de dormir. “Eu fui antes, tomei meu banho e fui pra cama, acordei com o gerente do hotel batendo à porta desesperado, dizendo que o corredor estava tomado de água. Quando fui ao banheiro, ela estava dormindo dentro da banheira e a água transbordou pelo banheiro, quarto e todo o corredor do hotel”, lembra. “Ela olhou pra mim e disse que dormiu sem perceber”.

Em outra ocasião, também no Nordeste, Antonietta – que tinha pavor de baratas – entrou em desespero e começou a gritar ao ver uma barata d’água no quarto. “Estávamos em um hotel à beira-mar, era normal aquele tipo de barata, mas ela ficou desesperada, acordou o hotel inteiro aos gritos”, conta a amiga, que também admite o medo de baratas.

Meg conta que as viagens eram sempre agradáveis com a amiga. Ocasiões em que era possível conhecer mais uma a outra. Foi apenas na viagem pela Europa, por exemplo, que Meg descobriu que a amiga não sabia nadar. “Estávamos numa praia em Saint Martin e ela decidiu entrar no mar. Eu estava lendo um livro e, depois de algum tempo, vi que ela tinha ‘levado um caixote’ (atingida por uma onda) e estava desesperada, uns americanos correram e a tiraram do mar”, conta. Meg disse ter muitas saudades da amiga, que morreu em novembro de 2011. “Ela faz muita falta, se estivesse, com certeza, seria uma que lutaria muito pelos direitos das mulheres”.

Nome de Escola

Antonietta Rosalina da Cunha Losso Pedroso, que também foi professora primária, dá nome à Escola Municipal de Educação Infantil, localizada na rua Eça de Queiroz, na Vila Monteiro. O projeto de lei que sugeriu a homenagem foi apresentado pelo então vereador Paulo Henrique Paranhos Ribeiro, em 2012.

Biografia

Filha de Fortunato Losso Netto e Anna Glória da Cunha Losso, Antonietta nasceu em Niterói (Rio de Janeiro), em 9 de dezembro de 1933. De 1941 a 1952, estudou no Instituto de Educação Sud Mennucci, em Piracicaba, pelo qual se formou professora primária.

A partir de 1953, cursou Direito na USP, tornando-se bacharel em 1957. Fez pós-graduação em Economia Rural pelo Departamento de Economia da Esalq-USP (1966-1968) e pela Universidade do Estado de Ohio (1968-1970); e especialização em Direito Agrário, Direito Econômico, Direito Administrativo e Direito Urbanístico pela Faculdade de Direito da USP (1975-1976) e em Matemática Financeira e Gerenciamento pela Unimep (1986-1987).

Antonietta foi membro do Conselho Curador da Fundação Cásper Líbero por três mandatos, presidente da Adjori (Associação de Jornais do Interior no Estado de São Paul), entre 1990 e 1992, e do Sindjori (Sindicato das Empresas Proprietárias de Jornais e Revistas no Estado de São Paulo), por quatro mandatos (1992 a 1995, 1995 a 1999, 2001 a 2004 e 2007 a 2010).

Foi membro do conselho da Ciesp, Acipi, Sesi e ANJ (Associação Nacional de Jornais). Na diretoria da Abrajori (Associação Brasileira de Jornais do Interior), foi secretária e membro do conselho. Pertenceu à diretoria da API (Associação Paulista de Imprensa).

Antonietta Rosalina da Cunha Losso Pedroso tornou-se cidadã piracicabana em 1993, ao receber o título da Câmara de Vereadores. Antonietta morreu aos 77 anos, em 11 de novembro de 2011.

(continua)

Matéria publicada no Jornal de Piracicaba, em edição especial, comemorativa aos 120 anos do JP. Para conhecer outros conteúdos desta edição, publicados em A Província, acompanhe a TAG JP 120 anos.

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