O poder da espiritualidade
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Deitado na cama, de pijamas e pronto para dormir, rezava, baixinho, cinco Pai-Nossos e cinco Ave-Marias. Pedia para manter-se firme, sem fumar. Ao acordar, repetia as orações com fé em Deus. Decidido a livrar-se dos cigarros, usou adesivos de reposição nicotínica e marcou, no calendário, uma data para parar. Mas não seguiu, corretamente, as orientações médicas: interrompeu os selinhos e voltou a fumar após beber algumas latas de cerveja. Assustou-se quando, sentindo-se mal, com falta de ar, lhe revelaram, na Unimed, que sofria de enfisema pulmonar.
Orlando experimentara o primeiro cigarro ainda menino, aos oito anos. Após cinco décadas de tabagismo, sofrera consequências graves — em 2015, descobriu um aneurisma da aorta abdominal e realizou cirurgia para o implante de uma endoprótese. Todavia, mesmo após a internação hospitalar, não conseguiu vencer o vício.
Diferentes pesquisas descrevem que a fé e a espiritualidade podem ajudar a reduzir sintomas, como ansiedade, depressão e estresse, além de mudar hábitos, como parar de beber e de fumar. Estive presente no Congresso da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (SOCESP), quando palestrou o cardiologista Álvaro Avezum, um dos médicos brasileiros com maior produção acadêmica de impacto no mundo, de acordo com a agência multinacional Thomson Reuters. Segundo ele, a espiritualidade não se liga, necessariamente, a uma religião, mas, sim, a um conjunto de atitudes que as pessoas adotam na vida e à maneira como se relacionam. Bom exemplo disso encontra-se na capacidade de perdoar e de eliminar mágoas.
O peso de tais posturas na adesão e nas decisões relativas ao tratamento e, consequentemente, a um prognóstico positivo foi apontado em, pelo menos, 1.757 estudos na área da espiritualidade, publicados no PubMed, um site científico de busca, dos quais 961 produzidos nos últimos cinco anos.
Há um ano, o metalúrgico aposentado Orlando Sérgio Rodrigues, imbuído de fé, livrou-se do vício nos cigarros e segue fazendo, diariamente, suas orações.
*Dra. Juliana Barbosa Previtalli – médica cardiologista, integrante do Corpo Clínico da Santa Casa de Piracicaba; diretora científica da SOCESP regional Piracicaba; idealizadora do projeto antitabagismo “Paradas pro Sucesso”.
*Erasmo Spadotto – cartunista e chargista, criou a ilustração especialmente para este artigo.
A Província apoia o projeto e a campanha antitabagismo “Paradas pro Sucesso”. Para acompanhar outras crônicas desta série, acesse a TAG Paradas pro Sucesso.