Desdobramentos das Paradas pro Sucesso

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À margem esquerda do rio Piracicaba, a fábrica de tecidos Boyes — a primeira grande indústria da cidade — empregava, desde a sua fundação em 1874, muita mão de obra feminina. A jovem Maria Salete Marchi Tobaldini trabalhou nas suas linhas de produção por 5 anos. Quando entrou na fábrica, já fumava cigarros — hábito que adquirira aos 13 anos — bem como a maioria de suas colegas de trabalho. Fumavam no intervalo do almoço. Casou-se aos 18 e, quando engravidou, a empresa dispensou-a 3 meses após. Não havia estabilidade para as gestantes à época.

Na família, o costume vinha dos antigos. O pai e o tio fumaram a vida inteira e sofreram com tromboses e com amputações. Salete via as primas mais velhas fumando, achava bonito, quis aprender e não parou mais. Fumava em casa e na rua; nas manhãs, nas tardes e nas madrugadas — acordava no meio da noite para fumar e perdia o sono.

Quem fuma ou convive com fumantes sabe que se usa o cigarro como forma de relaxar. Por isso, algumas pessoas têm o costume de fumar antes de dormir. Essa estratégia, porém, pode se mostrar uma vilã disfarçada. A nicotina — substância viciante presente no cigarro — age no cérebro provocando uma sensação inicial de alívio de tensões e a modulação do humor, causada pela liberação de dopamina. Ocorre que esta atrapalha a liberação da melatonina — hormônio fundamental para o sono — e favorece a da adrenalina, um estimulante. O resultado? Um sono superficial, fragmentado, agitado e insatisfatório.

Salete fumou durante as duas gestações e, depois que os filhos nasceram, continuou fumando. Fumava se estivesse alegre. Se triste, também. Quando o filho Alex, de 15 anos, perdeu a vida tragicamente num acidente automobilístico, achou que a sua também acabaria. Parou de comer, deixou de conversar, só não parou de fumar.

O consumo de tabaco durante a gravidez pode levar a complicações para a mãe e para o filho. Elas incluem o nascimento prematuro do bebê, que pode ter baixo peso (geralmente nascem de 700 gramas a 1 quilo mais leves que os outros), descolamento da placenta e ruptura precoce da bolsa — situações graves que podem levar à morte do bebê e também da mãe. O risco de aborto espontâneo em gestantes que fumam é maior, bem como o de uma gravidez ectópica — quando o embrião se desenvolve fora do útero.

Vale ressaltar, também, que o tabagismo na mulher jovem reduz globalmente a fertilidade, com evidente atraso na primeira gestação e com taxas de concepção menores que as de moças não-fumantes.

Chegou até mim acompanhada da filha Jéssica, que marcara a consulta incentivada pelas postagens da campanha “Paradas pro Sucesso”. A mãe aceitara tratar-se.

Religiosos, Salete e o marido, constantemente, se envolvem nas atividades do Cursilho da Cristandade e do Retiro no Santa Bárbara. Participam das reuniões da Escola Vivencial em que, semanalmente, alguém ministra uma palestra. Ela gosta de dar seu depoimento de vida. Conta que a lembrança do filho adolescente, que perdeu a vida tão cedo, se mantém no coração e na alma, forte e presente. Por outro lado, após uma vida inteira de tabagismo — 40 anos—, e agora, 2 anos e meio longe dos cigarros, enterrou o vício no passado.

*Dra. Juliana Barbosa Previtalli – médica cardiologista, integrante do Corpo Clínico da Santa Casa de Piracicaba; diretora científica da SOCESP regional Piracicaba; idealizadora do projeto antitabagismo “Paradas pro Sucesso”.

*Erasmo Spadotto – cartunista e chargista, criou a ilustração especialmente para este artigo.

A Província apoia o projeto e a campanha antitabagismo “Paradas pro Sucesso”. Para acompanhar outras crônicas desta série, acesse a TAG Paradas pro Sucesso.

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