Revisitando Michael

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Deixando-Neverland-Capa

Foto: Reprodução Google

O documentário “Deixando Neverland,” de Dan Reed, é uma bomba atômica sobre a pessoa e a obra de Michael Jackson. Os depoimentos dos hoje adultos Wade Robson e James Safechuck sobre supostos abusos sofridos pelo rei do pop são de tal força, que parece muito difícil que sejam inventados, embora tudo seja possível quando se trata de construir/destruir seres humanos na indústria do entretenimento.

Acima de tudo, o filme levanta diversas questões que não podem ser vistas de maneira estereotipada sob o risco de se cair em um simplismo de paixões contra ou favor do astro. Uma delas está no argumento de que a produção artística do cantor não poderia ser confundida com as denúncias envolvendo as acusações de pedofilia.

O problema está em que o fato de ele ser famoso, como mostra o documentário, foi fator essencial para o envolvimento das então crianças com o artista, assim como contribuiu para colocar uma espécie de véu sobre os pais dos meninos que participavam daquela vida de “ricos e famosos” aparentemente – e estranhamente – sem perceber como a relação de Michael com os jovens estava adquirindo contornos, no mínimo, pouco usuais.

Após o lançamento do documentário, há aqueles que estão inclusive boicotando a obra do cantor. O debate promete se ampliar, inclusive porque juridicamente vale a última decisão em que ele foi inocentado de acusações, em 2003. No entanto, o documentário, em dois programas com duas horas cada, traz depoimentos com tanto vigor e detalhamento que não pode ser simplesmente negligenciado.

Um fato é que, embora sem provas materiais, as falas de Robson e Safechuk tornam quase impossível ouvir os sucessos do criador norte-americano sem um sentimento de que ele é um  grande artista, mas que, com seu comportamento sexual, não só abusou de menores, mas deixou neles sequelas psicológicas que afetam inclusive a maneira como esses adultos lidam hoje com seus próprios filhos.

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