Maneco (filho de Getúlio Vargas) aluno da Esalq

(Há poucos dias, na secção Bom Dia, foi feita rápida referência ao período em que o filho de Getúlio Vargas, Manoel (Maneco ou Manolo), estudou em Piracicaba, trazido pelo então todo poderoso Simões Lopes, homem de confiança de Getúlio e ele próprio ex-aluno da Esalq. Para ampliar a informação, reproduzimos artigo do engenheiro agrônomo e jornalista José Calil, já falecido, que foi contemporâneo de Maneco Vargas.)

A graduação do jovem filho de Getúlio Vargas (Maneco no RS e Manolo em Piracicaba), em 1936, marcou época entre os acadêmicos e na sociedade local pela presença da primeira-dama da República, dorna Darcy Vargas, estimada por todos os brasileiros por sua ação social, que estava acompanhada por sua renomada filha Alzira Vargas e pelo ex-aluno da Esalq, Luiz Simões Lopes, então ministro do Trabalho e presidente da Fundação “Getúlio Vargas”.

Maneco foi colega de turma de João Pacheco e Chaves, ex-secretário de Agricultura do Estado de São Paulo, ex-presidente do Instituto Brasileiro do Café e deputado federal por muitos anos, que hospedou essas personalidades na chácara Nazareth, onde costumava se hospedar o ex-presidente da República, JK, e o deputado federal Ulisses Guimarães, este companheiro político inseparável de Pacheco e Chaves, ambos líderes da oposição contra o regime militar.

O jovem Manolo

Seria um período traumático para o jovem Manolo, pós-Revolução-Constitucionalista e anti-getulista de 32, não fosse o seu espírito liberal, apolítico e de camaradagem, que tanto o caracterizava.

Um período de muito radicalismo político-ideológico com os integralistas de Plínio Salgado e muitos “oriundi” fanáticos de Mussolini, ostensivamente portadores de provocantes camisas verdes e camisas “neras”.

De outro lado, os “cripto-comunistas”, não menos fanáticos em defesa do sócia lismo e da luta contra o nazi-facismo.

Manolo manteve-se acima das discussões e discórdias políticas e ideológicas e assim conquistou a simpatia de todos, principalmente depois que conseguiu o navio Dom Pedro lI, luxuoso transatlântico alemão confiscado pelo Governo brasileiro, para conduzir os estudantes de Piracicaba em excursão ao Uruguai e Argentina, onde foram recebidos com honra de Estado pelos respectivos presidentes.

Vargas na Esalq

Em meados de 1939, o Centro Acadêmico “Luiz de Queiroz” designou uma comissão de estudantes, integrada por Domingos Xavier de Moraes (PE), Leônidas Ferreira, de Jaú (SP), e José Calil, de Piracicaba (SP), para entrevistar o ministro do Trabalho, Luiz Simões Lopes, ex-aluno da Esalq, que tinha baixado na época ato transformando o título de “engenheiro agrônomo” em simples agrônomo.

O objetivo da viagem era pressionar o ministro para que revogasse a medida, considerada pelos acadêmicos de agronomia do Brasil uma diminuição do status profissional.

Por benesses da Providência, a comissão de estudantes, caminhando pela avenida Rio Branco, no Rio de Janeiro, então capital federal, em demanda à rua Graça Aranha, onde se situava o Ministério do Trabalho.

Quando os acadêmicos, à certa altura, cruzaram com o Manolo Vargas que estava em uma galeria e foi visto por um enorme espelho do estabelecimento.

Festa e alegria

Foi uma festa e muita alegria. Manolo esclareceu que a audiência com o ministro Simões Lopes era pura perda de tempo e acordou com a comissão uma entrevista direta com o presidente Getúlio Vargas, no Palácio da Guanabara, residência oficial, às 13h daquele mesmo dia, hora em que ele chegava para o almoço.

Assim foi feito e na hora aprazada, a guarda presidencial conduzia os estudantes para o enorme salão de recepção, onde o presidente Getúlio Vargas, logo em seguida, veio ao encontro dos acadêmicos com o seu sorriso e muita simpatia.

Depois de uma conversa descontraída, em que o presidente fez numerosas perguntas, desde os nomes dos três visitantes e sua origem (Domingos, usineiro em Pernambuco; Leônidas, cafeicultor em Jaú; e Calil, nativo de Piracicaba); sobre a cidade de Piracicaba; a escola “Luiz de Queiroz”; os meios de transporte; as repúblicas; o currículo de agronomia; o relacionamento entre os estudantes e a sociedade local; os casamentos entre os jovens estudantes e as moças da terra; a beleza natural da cidade; o relacionamento entre estudantes e professores e muitas outras questões pertinentes.

Em seguida a essa conversa agradável e gratificante, ficamos todos muito descontraídos e à vontade, e o presidente Getúlio aconselhou-nos que fôssemos às 16h daquele, mesmo dia ao encontro do ministro Lopes, que era a autoridade competente para a reivindicação.

Sem se manifestar a respeito, Getúlio referiu-se com tal simpatia ao problema dos acadêmicos de agronomia que saímos do Palácio com plena convicção de que a questão estava resolvida.

A opinião do ministro

Na hora aprazada a comissão chegou ao Ministério do Trabalho e tudo estava orquestrado para uma recepção triunfal no gabinete do ministro o qual sem perda de tempo esclareceu que o objetivo do ato questionado pelos estudantes era a valorização da profissão de agrônomo, desligando-a da de engenheiro. Mas, já que os estudantes queriam, iria revogar o ato e restabelecer o título de engenheiro agrônomo para os formandos das escolas de agronomia. Com certeza, a revogação desse ato em muito contribuiu para a valorização dos profissionais de agronomia.

Nota: Em sinal de reconhecimento ao presidente Getúlio Vargas, os graduados da Esalq, turma de 1939, o elegeram por unanimidade paraninfo. Na época, não havia clima para o seu comparecimento, mas a solenidade foi presidida pelo governador Adhemar de Barros, que proferiu vigoroso pronunciamento sobre a economia agrícola brasileira.

3 comentários

  1. Rede Agronomia em 14/01/2016 às 11:31

    Excelente relato histórico!

  2. Geraldo Papa em 15/01/2016 às 07:24

    Conheci um senhor chamado Moises, já falecido, que morou por muito tempo no bairro da paulista em Piracicaba, que dizia ser neto de Getulio Vargas, pois era filho (não reconhecido) de maneco com uma empregada de uma república esalqueana da epoca. Quando o conheci ele reivindicava na justiça alguma participação na herança da família Vargas.

  3. Luiz Gava em 14/09/2016 às 07:37

    Longe julgar alquém. Mas quem abandona um filho e o deixa a própria sorte é simplesmente digno de pena e não notas politicamente produzidas.

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