O avô do Índio e Piracicaba

Avô do ÍndioO melhor momento para se escolher o desconhecido deputado Índio da Costa como a vice de José Serra foi, de fato, durante a Copa do Mundo. Pois o próprio mundo parou em favor do que é mais apaixonante e mobilizador do que política: o futebol. Com tantos índios por aí, um a mais, um a menos, até mesmo como candidato a vice-presidente, não altera nada. Ainda mais sendo um índio do DEM, o que pode ter outras significações. “Et pour cause…”

O meu propósito foi e é o de afastar-me do jornalismo de causas, uma fase encerrada em minha vida. Como contador de histórias, porém, jamais me furtarei a dar opiniões e a contar coisas que estão esquecidas, que passam desapercebidas ou que sejam simplesmente ignoradas. Ora, o vice de Serra é conhecidíssimo nas altas rodas sociais cariocas, um bon-vivant notório e apreciado entre os socialites. Esse Índio traz lembranças daquele grupo de jovens ricos de Brasília que inventaram a candidatura do Collor. O moço, porém, pertence à elite brasileira com ancestrais que prestaram, alguns deles, grandes serviços ao país. Como é o caso de Luiz Simões Lopes, avô de Índio da Costa, personalidade que o jovem político tem como um de seus referenciais.

O curioso, nessa aventura política armada pelo DEM e que tornou José Serra cativo dela, é a relação de Simões Lopes, o avô do Índio, com Piracicaba. Talvez, haja ainda quem se lembre, mas duvido sejam muitos. Pois Simões Lopes foi homem da mais absoluta confiança de Getúlio Vargas, seu chefe-de-gabinete, eficiente administrador, influente e poderoso no governo getulista. E foi Simões Lopes o homem escolhido por Getúlio para vir a Piracicaba, sondar o ambiente, preparar terreno e, enfim, conseguir a vaga, na então Escola Agrícola, para seu filho Manoel Vargas, o Maneco.

Simões Lopes – que criou e fundou a Fundação Getúlio Vargas em 1944, ao final da ditadura getulista – tornou-se hóspede do mais refinado casal piracicabano das primeiras décadas do século 20, Jorge Pacheco e Chaves e dona Jane Conceição, herdeiros e buriladores da centenária Chácara Nazareth. O estilo monárquico do Barão de Serra Negra, pai de Jane Conceição, imperava na Chácara Nazareth. E lá Simões Lopes passou a se hospedar, sempre atento às indas e vindas do irrequieto e até mesmo irresponsável Maneco Vargas, agricolão da ESALQ, colega de turma de João Pacheco e Chaves, de Romano Coury, de Cyro Marcondes César, entre outros. Aliás, Maneco deixou um filho em Piracicaba, num romance com uma empregada da república onde morava. Logo, houve um piracicabano neto de Getúlio Vargas. E Simões Lopes sabia disso.

A amizade de Simões Lopes, avô do Índio da Costa, com os Pacheco e Chaves fez com que ele indicasse, ao ditador Getúlio Vargas, o nome do doutor Jorge para prefeito de Piracicaba, quando o cargo se fazia por nomeação. O estilo elitista de Jorge Pacheco e Chaves fez com que ele recriasse o jardim central, querendo fosse uma miniatura das Tulherias: “Civilizar Piracicaba”, era seu lema. E Simões Lopes foi o acompanhante de dona Darcy Vargas, mulher de Getúlio, também hóspede na Chácara Nazareth, quando da formatura de Maneco, em 1936.

A história, porém, envolve em brumas – como que para poupar personagens – o amor tórrido, a paixão incontrolável, o romance empolgante que Getúlio Vargas viveu com a mais bela e refinada socialite brasileira daqueles tempos, Aimée Sotto-Mayor de Sá que era – para se ver e refletir – a mulher de Simões Lopes. Getúlio traía o melhor amigo e seu homem de maior confiança, no amor adúltero com Aimée. Em seu livro de Memórias – “Diário de Getúlio”, dois volumes com mais de duas mil páginas – Getúlio, sem citar nomes e com fidalga reserva, fala de seus encontros apaixonados com “a bem amada”. Até que, sendo notório o adultério na corte carioca e nos salões do Brasil, Simões Lopes decidiu separar-se de Aimée, que se mudou para o exterior, sendo amada por homens poderosos, incluindo Assis Chateaubriand que, por ela, teve, também, paixão alucinante. Casando-se com um milionário dos Estados Unidos, Aimée foi considerada uma das mais sofisticadas mulheres do mundo.

Talvez, nem o Índio da Costa saiba da influência de seu avô, Simões Lopes, em Piracicaba. E sei lá eu se tem laços sanguíneos com a bela Aimée, essa figura misteriosa que permaneceu viva no imaginário do povo brasileiro, humanizando a figura de Getúlio Vargas, um homem que, por baixo da máscara pétrea de pragmatismo, se mostrou capaz de grandes paixões. Bom dia.

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