Almeida Jr.: uma história de amor, arte e sangue (4 – final)

tumulo

Túmulo original do pintor, antes de ser restaurado, por ocasião das comemorações de seu centenário.

Thales de Andrade viu a morte do pintor

Durante o julgamento de José de Almeida Sampaio, diversas pessoas foram arroladas como testemunhas: o português Francisco José Rodrigues: o hoteleiro João Baptista de Castro, proprietário do Hotel Central; o estudante Felinto de Mattos Brito; o copeiro do hotel, Silverio Francisco Ferreira; o lavrado Antônio Alfredo Coelho; Antônio de Mello Cotrim, hoje reverenciado em Piracicaba com seu nome emprestado a eficiente grupo escolar.

Uma das ilustres testemunhas oculares do crime, no entanto, que ainda hoje se encontra viva, foi o escritor Thales de Castanho de Andrade, então muito criança, que, naquela mesma hora, passava pelo local do estúpido homicídio. Thales de Andrade, em declaração ao repórter, diz lembrar-se de quando Almeida Jr. tombou, com a mão no peito, todo ensanguentado. Depois, foram os gritos de Maria Laura e aglomeração de populares.

Cartas de Maria Laura

Nos autos do processo que ocorreu pela Justiça de Piracicaba, encontram-se diversas cartas de Maria Laura ao pintor Almeida Jr. Numa delas, a mulher diz o seguinte:

“Meu b. Aqui estou ainda, vosse sabe como são decididos os negócios por esta gente atoa, agora o peste inútil e imundo diz que vai pedir rebate todos os credores deixando na metade, como cousa que ha de conseguir isso, e depois aonde ele ha de achar mais tolos que deem dinheiro para ele sacrificar e por fora como estes, vai dar tanto prejuizo ainda pensa em demorar mais, eu sofro demais me ver sobre a direção de um cousa tão inutil, sobre a vontade de um nojento que de cada vez mais odeio, Meu Deus! quando me verei livre de semelhante peste, podia esses colonos fizessem essa grande limpeza e caridade para mim!! Tinha por mim sahido daqui para deixar esse cousa atoa resolver o que é resolvido por si como dizeis, mas não sou eu quem resolve. Me vejo a discrição dessa gente rele, quando terei a liberdade para so a vossa pertencer!! Sinto uma saudade cruel de vosse, parece que já ha hum anno que não te vejo, um anno faz que nos abraçamos e morremos. Quando já foi isso. Me parece um século. Teus bzinhos vão bem, abraçam-te e beijam-te. Abrace e beije com o maior amor e saudades a tua eterna bbb” (conforme originais. Grifos nossos).

Em outra carta, Maria Laura diz estas palavras que bem denotam a paixão que nutria por Almeida Jr.:

“Está chegando o dia do martyrio para mim, separar-me de vosse, eu fico desesperada com isso, vosse não pode calcular em que estado fico; me vem mesmo desespero, eu podia viver só na tua companhia descançada dessa gente que eu não posso mais suportar (…)”

E também a revelação de que um de seus filhos Maria Laura o teria tido do grande pintor:

“Agora, quando te verei? Vosse marque quando vem para eu te esperar, porque a esperança de ter me consola da grande dor da separação. Está com seis anos a tua filhinha, eu sinto ver ella na edade de receber educação que ella havia de ter tão boa, tendo um pae como ella tem e não aproveitar (…)”

E, enfim, esse brado desesperado de angústia:

“Meu Deus tudo é triste. Escreva, escreva, escreva, cada quinze dias quero receber tuas notícias. Adeus beije mil vezes tua eterna bbb. Podia eu fôsse este papel? São meia noite já, sinto tão feliz em estar dizendo-te palavras que me sahe do intimo d’alma. Adeus! Adeus! Já não posso mais, eu quero te ver breve aqui meu Deus! Vou te esperar logo, quero demais te ver. Adeus, abrace e beije tua eterna e terna bbb. Vai com pingos de lágrimas de saudades.”

 [Esta reportagem foi, originalmente, publicada na revista “Piracema”, edição de abril de 1966. O texto é de Cecílio Elias Netto, com pesquisa no Fórum de Piracicaba e arquivos de João Chiarini. Reprodução fotográfica: Beto Brusantin]

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