O caipira (e aristocrata) Júlio Prestes ganhou mas não levou

Júlio Prestes

As revoluções de 1930 e de 1932 tiveram a participação e, também, a lideranças de piracicabanos ilustres, como Paulo de Morais Barros, Francisco Morato, João Bottene, Jacob Diehl Neto. A gota dágua foi a vitória de Júlio Prestes para a Presidência da República, em pleito eivado de abusos, falhas e corrupção.

De família de fazendeiros e com grande influência política, Júlio Prestes fez seus estudos primários e os secundários no Ginásio do Estado da capital paulista, ingressando, a seguir, na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Seu pai, Fernando Prestes, foi Presidente do Estado de São Paulo de 1898 a 1900 e vice presidente, de 1908 a 1912 e, depois, de 1924 a 1927.

A força política da família fez com que Júlio abandonasse a advocacia, que exerceu por apenas três anos, elegendo-se deputado estadual por quatro legislaturas seguidas, de 1909 a 1923. Ainda pelo PRP, elegeu-se, em 1924, deputado federal, sendo líder da bancada paulista na Câmara Federal.

Paulista de 400 anos

Os Prestes de Albuquerque marcaram sua presença política por um enraigado conservadorismo, característica principal dos grandes proprietários de terras paulistas. Assim, quando eclodiu o “movimento tenentista” de 1924, os Prestes —  Fernando e Júlio – colocaram-se ao lado do governo federal, e, com Washington Luís, organizaram a defesa do ramal de Itararé (SP) contra os revoltosos, após o que afirmaram sua liderança sobre o partido paulista.

Quando Washington Luís se elegeu presidente, mantendo a defesa dos interesses dos cafeicultores paulistas, o grupo da família Prestes se consolidou. E, com a morte do presidente de São Paulo, Carlos de Campos, em 1927, o então vice-presidente, Fernando Prestes, recusou-se a assumir o cargo, possibilitando que Júlio se candidatasse e se elegesse para governar São Paulo. A política brasileira começava a deteriorar-se e, em São Paulo, os grandes fazendeiros lutavam para manter o poder.

O candidato e a revolução

A oposição ao presidente Washington Luiz se tornava cada vez mais intensa. O velho PRP estava dividido em São Paulo, com o surgimento do Partido Democrático(PD), que propugnava por novos modelos. Para dar continuidade a seu governo e aos velhos ideais perrepistas, Washington Luís escolheu Júlio Prestes para seu sucessor, rompendo acordos políticos. Foi quando surgiu a Aliança Liberal, unindo forças especialmente de Minas Gerais, Paraíba e Rio Grande do Sul, com o apoio do Partido Democrático de São Paulo.

Com o Brasil em grave crise econômica e com os cafeicultores insatisfeitos, assistiu-se à grande disputa pela sucessão presidencial. De um lado, apoiado por Washington Luiz, o paulista Júlio Prestes; de outro, o candidato da Aliança Liberal, o gaúcho Getúlio Vargas. Em 1ª de março de 1930, realizaram-se as eleições, tidas como as mais fraudulentas da história republicana. Dos cerca de 1.800 milhão de votos, o candidato oficial, Júlio Prestes, obtivera, nos mapas de apuração, quase 1.100 milhão. A fraude revoltou a oposição, causando protestos que se espalharam pelo País. A eleição de deputados mineiros e paraibanos não fora reconhecida por Washington Luís. As denúncias de farsa  multiplicaram-se. Um exemplo alarmante:  no atual município de Osasco, com um eleitorado de 3.095 cidadãos, o candidato Júlio Prestes obtivera 6.018 votos…

Indiferente aos protestos e à violência que se espalhava pelo Brasil, Júlio Prestes, considerando-se eleito, embarcou para o exterior, sendo recebido com honras oficiais nos Estados Unidos, França e Inglaterra.  O sabor da glória durou pouco: em 3 de outubro de 1930, a revolução eclodiu em diversos pontos do País; no dia 24, era deposto Washington Luís. Sem reagir, Júlio Prestes transmitiu o governo de São Paulo aos revoltosos e exilou-se no exterior. Ele ganhara, mas não levara.

Casado com Alice Prestes de Albuquerque, com quem teve três filhos, Júlio Prestes morreu em São Paulo no dia 9 de fevereiro de 1946.

1 comentário

  1. Do interiorrr em 18/11/2020 às 20:53

    Nossa! Que recalque, piracicabano não caipira.

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