História do Largo da Matriz (Final)
Em 16 de fevereiro de 1890, a “Gazeta de Piracicaba”, em destaque, reclamava contra a falta de um coreto no Largo da Matriz onde as bandas de música locais pudessem realizar as suas retretas.
No dia 8 de dezembro, na Sessão do Conselho de intendência Municipal, deu entrada uma indicação assinada por Joaquim Fernandes Sampaio que foi aprovada – “indico que se mande construir no Jardim público, em frente ao largo, um coreto destinado às bandas de música que aí queiram tocar aos domingos e dias santificados, concorrendo, assim, para maior embelezamento do jardim.”
Três dias depois (11/8), anunciada pela “Gazeta de Piracicaba”, explodia a boa nova: a Intendência Municipal iria construir no jardim público, um coreto para concertos bandísticos, bem como mais dois portões, “sendo um na rua Boa Morte (em frente ao atual Banco Itaú) e outro na rua paralela àquela.”
Naqueles bons tempos, o jardim público era fechado por um gradil de madeira com um metro e vinte centímetros de altura. O jardim possuía apenas dois portões: um fazendo frente à Matriz, e outro ao antigo teatro Santo Estevam, ou seja, na rua são José. Os portões eram fechados às 21 horas.
Em 6 de abril de 1891, por indicação do dr. Tibério de Almeida, aprovado pelo Conselho, a Intendência deveria providenciar a substituição do cercado do jardim público por gradil e portões de ferro e a construção de um chafariz no centro desse mesmo jardim. Em 1O de setembro, o cidadão Arthur Sterry ofereceu à Intendência do Município um gradil e portões de ferro e o chafariz solicitado para a decoração do jardim.
Somente em 1o de janeiro de 1892, quase dois anos depois da indicação de Joaquim Fernandes Sampaio, inaugurou-se o coreto do jardim da Matriz. Houve concerto das bandas musicais “Artistas e Operários”, das 17:00 às 19:00 horas e “Azarias de Melo” das 19:00 às 21:00 horas. Foi grande a afluência popular e de autoridades, tendo à frente o presidente da Intendência o ilustre cidadão dr. Paulo de Morais Barros, recém-eleito para o cargo.
O repucho doado por Júlio Conceição (descrito no primeiro artigo da série – “A Província”, no 92) só foi inaugurado em 2 de fevereiro de 1893. Tinha cerca de quatro metros de largura e lindas e graciosas “bacias”. A água jorrava das alturas, oferecendo um belo espetáculo. Ao lado, foi assentada sobre um pedestal uma pedra de mármore com a seguinte inscrição: “Oferecido a Piracicaba por Júlio Conceição – 1893”.
No dia 2 de agosto do mesmo ano, a luz elétrica – pioneirismo de Luiz de Queiroz – iluminou o Largo da Matriz, o Largo do Teatro e o jardim público também, parte das ruas Prudente de Moraes, São José, Alferes José Caetano, Direita, do Comércio, da Glória, 13 de maio e Santo Antonio.
No dia 15 de novembro de 1895, a “Gazeta de Piracicaba” dava a notício de que um grupo de cavalheiros da cidade se empenhava numa subscrição popular com o objetivo de construir um teatro condigno para Piracicaba, pois o primitivo Santo Estevam caía aos pedaços. Já estava subscrita a importância de r$ 60:000$000…
Assim, a praça da Matriz foi o ponto de encontro para os festejos da passagem do século 19 para o século 20.
Durante o governo de Fernando Febeliano da Costa – 16 anos não consecutivos – na gestão de 1917 a 1925, foi feito o enquadramento do jardim dentro dos moldes da paisagística francesa.
Em outubro de 1937, a Câmara Municipal enviou ofício ao prefeito municipal Luiz Dias Gonzaga informando que havia sido aprovada a solicitação de verba para a edificação do Monumento ao Soldado Constitucionalista. Em 9 de julho de 1938 foi com muita solenidade inaugurado esse panteão, orgulho do povo paulista.
Em 1943, na administração de Jorge Pacheco Chaves, o arquiteto e paisagista Jacques Pillon e o engenheiro Ulhoa Cintra eleboraram o projeto para a remodelação do jardim e para o teatro Santo Estevam.
Em 1945, durante a gestão de Bento Luiz Gonzaga, a praça 7 de setembro foi incorporada à praça José Bonifácio, conservando-se a nomenclatura do Patriarca. A rua São José ficou assim como hoje, interrompida, e o jardim perdeu o seu aspecto de bosque com a derrubada das árvores plantadas em 1887.
O escultor Luiz Morrone foi autor da herma de Sud Menucci, doada pelo Centro do Professorado Paulista e inaugurada em 21 de julho de 1951. Essa obra foi retirada do jardim em 1980 e trasladada para a frente do E.P.S.G. “Sud Menucci”.
O teatro Santo Estevam foi demolido em 1954, quando o prefeito Samuel de Castro Neves atendeu lei aprovada pela câmara.
O monumento “Luiz de Queiroz”, tambem obra de Luiz Morrone, foi inaugurado em 1959 e o obelisco a Mario Dedini em maio de1961.
Durante 1980,na administração de João Hermann neto, teve início a última reforma da praça José Bonifácio(14 de julho de 1980). Para tanto foi lançado pela Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Piracicaba, um concurso para o melhor projeto da nova praça. A comissão julgadora foi composta pelos arquitetos Eideval Bolanho, Fabio Penteado e Armando Rebolo. Os autores do projeto vencedor foram Luiz Gobeth Filho e sua esposa Dulcinéia Gobeth.
Assim, Gobeth definiu na época o seu projeto: O conceito que norteou nosso trabalho é que a praça deve ser destinada ao homem não à máquina”.
A revista “Mirante” (n 4), publicou na época uma reportagem assinada por Araken Martins, a qual serve como documentação histórica;
“O projeto de Gobeth prevê a interrupção do tráfego de veículos pela rua Moraes Barros, em frente à Catedral de Santo Antônio, onde será construído um espelho d’água. A rua São José, da Benjamin Constant até a praça, deverá ter mão dupla de direção, o mesmo ocorrendo na São José, da praça até a Alferes José Caetano. No intuito de se criar mais espaço para o homem até os pontos de tá xi já foram removidos para locais próximos.
Onde atualmente se encontra a ex-fonte luminosa, que serve para banhos de calouros quando dos trotes, dos engraxates nos dias mais quentes e até mesmo para comemorações como as das últimas eleições, será construído um coreto para audições musicais, visando retorno aos antigos hábitos”…
“As árvores deverão ser mantidas, a arborização complementada, quando necessário”.
Mas, como não poderia deixar de acontecer, e é o que se previa, os problemas começaram a surgir. O principal é quando da saída dos monumentos para locais mais adequados, segundo o arquiteto. Segundo João Chiarini, considerado a memória viva de Piracicaba, os monumentos a Mário Dedini, Luiz de Queiroz e ao Soldado Constitucionalista, o Marco da Bandeira e a herma de Sud Menucci devem ser conservados no local original. Memorialista de “O Diário”, João Chiarini publicou três violentos artigos onde narra com clareza a história de cada um dos monumentos, defendendo arduamente tanto sua preservação como a permanência na praça pública”.
“Aproveitando para analisar os prós e os contras, Luiz Gobeth assiste a tudo calmamente. Diz que a retirada dos monumentos é apenas uma proposta. Se isso realmente ocorrer, não o será de forma brutal, desumana, uma pura e simples remoção. Antes, segundo o arquiteto, será a oportunidade para reavivar a memória daquelas pessoas ilustres que hoje ocupam um espaço na praça e na história de Piracicaba.”
Os monumentos foram retirados, mas o do Soldado Constitucionalista, atendendo ao anseio de forças vivas da cidade, retornou ao seu lugar de origem .
*Hugo Pedro Carradore é professor, folclorista e historiador.