JIC Mendes, ilustrador (12)

O texto, a seguir, é conteúdo do livro “JIC Mendes, ilustrador – São Paulo e o mundo há 70 anos nos traços de um grande cartunista”, que integra a Coleção de Humor Gráfico da AHA – Associação dos Amigos do Salão Internacional de Humor de Piracicaba, em parceria com o IHGP – Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba. O livro reúne os trabalhos publicados no jornal “A Noite”, de São Paulo, no final dos anos 40. Conforme nota do editor, as legendas das ilustrações foram transcritas, mantendo-se a grafia original das mesmas.

32 – Nas barbas dos guardas

Sexta-feira, 19 de dezembro de 1947

JIC Mendes 32

E isso acontece em plena Praça da República!!!

NAQUELA ÉPOCA de penúria econômica os pneus eram uma mercadoria valiosa e podiam sumir repentinamente. O ladrão com uma máscara à la Metralha (os desastrados inimigos do Tio Patinhas que seriam criados em 1951 por Carl Barks) age na maior impunidade enquanto os guardas viram as costas – por descuido ou por conivência? Mesmo assim, ainda não é nada que se compare aos sanguinolentos crimes noticiados com profusão de fotos na última página de A Noite.

Sempre ligado nas atualidades, JIC comentou, em 26 de setembro de 2017, que soube da notícia que furtos idênticos estavam acontecendo durante o dia em São Paulo – 70 anos depois!

33 – Ele mora nas Perdizes!

Sábado, 20 de dezembro de 1947

JIC Mendes 33

Um banho agora não seria nada mau… – …!?!?!

 NOSSO AMIGO tem uma desagradável surpresa ao chegar em casa num dia de muito calor. Ele mora, aliás, no mesmo bairro em que morava o desenhista JIC – que já tinha tido problemas semelhantes.

 34 – Briga de Mascotes

Quarta-feira, 24 de dezembro de 1947

JIC Mendes 34

– Será que eles se darão bem?

UMA VISÃO zoológica da Guerra Fria em vias de esquentar. Já nos últimos lances da Segunda Guerra Mundial, a política internacional começara a ser dominada pelo enfrentamento entre os Estados Unidos e a União Soviética. Em pouco tempo, as duas superpotências dividiram a maior parte do mundo em dois blocos de países antagônicos.

Para aqueles alinhados com os Estados Unidos, como era o caso do Brasil, a luta contra o comunismo era uma prioridade absoluta. Um dos aspectos desta última mais presentes no jornal A Noite era a perseguição ao então senador Luís Carlos Prestes, secretário-geral do Partido Comunista Brasileiro. O registro do partido foi cancelado em abril de 1947 e Prestes e seus correligionários foram cassados no ano seguinte.

Outra notícia da época anunciava que o poeta chileno e também senador Pablo Neruda estava sendo processado em seu país por ser comunista (ele havia visitado o Brasil em 1945 e lido para mais de 100 mil pessoas reunidas no Estádio do Pacaembu um poema em homenagem a Prestes, incluído posteriormente no seu Canto Geral).

Todos os símbolos característicos dos Estados adversários estão presentes nesta charge: de um lado o tio Sam com a águia que segura flechas em sua garra, do outro Stalin com o urso que carrega a foice e o martelo. E a resposta à pergunta da legenda – negativa – fica igualmente clara.

 (continua)

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