Na Prainha de Congonhas      

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Na-Prainha-CongonhasBoeings da Air France, Electras da Varig e os “jatões” da Transbrasil taxiavam no Aeroporto de Congonhas. Ver aquelas máquinas barulhentas percorrerem a pista decolando ou aterissando e, depois, apreciá-las, bem de pertinho, nas “prainhas”— antigos terraços do aeródromo — transformava o domingo em uma festa para os paulistanos na década de 1970. Apaixonado, desde pequeno, por aviação, Luiz Augusto, acompanhado dos pais, assiduamente visitava o local. A mãe ia em busca de revistas francesas de figurinos, enquanto o pai, de maços de cigarros importados.

Desde cedo, teve a oportunidade de conhecer o mundo e suas culturas. Filho único de família tradicional de São Paulo, foi criado sozinho. Muito próximo do avô, outrora deputado federal, viajaram juntos à China, a Hong Kong e à Indonésia, onde conheceram os mistérios do Oriente. Aprendeu a ler, sozinho, aos 4 anos de idade, tamanha a curiosidade que a aviação lhe despertava. Compraram-lhe três enciclopédias — a Barsa, a Mirador e a Grolier. Inscreveram-no num concurso de conhecimentos gerais e, aos 14, quando já dominava o Espanhol, o Inglês e o Francês, ganhou o primeiro lugar.

Excursionou com a mãe, guia de turismo, pelos Estados Unidos, pelo Canadá, pelo México, pela Argentina e por vários países da Europa. As viagens proporcionaram-lhe oportunidades incríveis de conhecimento.

Começou a fumar durante o curso de Direito da USP, depois de frustrar — para alívio da mãe — seu sonho de tornar-se piloto de avião. Tentou cursar engenharia na Mackenzie, mas tinha, nas Exatas, seu ponto fraco. Com os amigos do Largo de São Francisco saía para beber, jogar dardos e fumar.

Sentia necessidade de acender um cigarro e tomar um café para iniciar o dia, fosse nos escritórios de advocacia, cheios de colegas de outrora, fosse sozinho em seu gabinete, no Tribunal do Trabalho, nos dias de hoje.

O confinamento da pandemia da COVID acarretou o aumento no consumo de cigarros e de bebidas. Luiz Augusto decidiu pôr um fim aos vícios, quando notou, na namorada, exacerbadas crises asmáticas, notadamente relacionadas à fumaça do cigarro.

Segundo o INCA — Instituto Nacional de Câncer —, o tabagismo constitui-se o maior fator de risco isolado de adoecimentos e  de mortes no mundo. No entanto os danos causados pelo cigarro não atingem apenas os fumantes. As pessoas que inalam a fumaça exalada, ou proveniente da ponta acesa do cigarro, formam o grupo dos fumantes passivos. Expõem-se à complexa mistura de mais de quatro mil compostos químicos nas formas de gases e de material particulado.

Olhos irritados, tosse, dores de cabeça e alergias, principalmente respiratórias, acometem os tabagistas passivos. Problemas cardíacos, como a angina e  o infarto, conhecidos fantasmas dos tabagistas, também se manifestam, com maior prevalência, nos passivos.

Luiz Augusto chegou a meu consultório recomendado pelo Dr. Serginho Pacheco. Aplicado, fez o tratamento e parou de fumar.

Próximo da idade de se aposentar, disse-me que não pretende parar. Em retribuição à sociedade e ao Estado, que lhe proporcionou a formação acadêmica e, depois, o mestrado e o doutorado, planeja montar um escritório e trabalhar “pro bono”.

Oxalá os anos vindouros, livres do tabagismo, venham plenos de saúde e permitam que implemente seu projeto altruísta.

*Dra. Juliana Barbosa Previtalli – médica cardiologista, integrante do Corpo Clínico da Santa Casa de Piracicaba; diretora científica da SOCESP regional Piracicaba; idealizadora do projeto antitabagismo “Paradas pro Sucesso”.

*Erasmo Spadotto – cartunista e chargista, criou a ilustração especialmente para este artigo.

A Província apoia o projeto e a campanha antitabagismo “Paradas pro Sucesso”. Para acompanhar outras crônicas desta série, acesse a TAG Paradas pro Sucesso.

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