O papa Francisco
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Na terça-feira passada, o mundo parou pela segunda vez, para assistir à entronização do papa Francisco, no Vaticano. A primeira vez foi no dia 11 de fevereiro, quando o papa Bento 16 renunciou e o mundo foi pego de surpresa. Embora o então pontífice já tivesse aludido a sua possível renúncia, o fato assombrou a todos.
Na presente história, a renúncia de um papa é uma notícia bombástica. Para a mídia foi um “prato cheio”. Contudo, ficou no ar a dúvida: mero cansaço e incapacidade física para continuar no cargo?
Não deverá jamais ser esquecida a sua maravilhosa contribuição à Igreja, a beleza dos documentos pontifícios, sua erudição, cultura e sabedoria. Creio que o papa Bento é dos maiores intelectuais do nosso tempo.
Rapidamente, um novo conclave foi organizado e a fumaça branca apareceu na chaminé da Capela Sistina. Eis que o cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio foi eleito papa e, desde então, mais um “prato cheio”…
Jesuíta, o santo padre adota o nome de Francisco, um claro recado de como será sua passagem pelo trono de Roma. Trata-se de um homem de muita personalidade, com estilo próprio, que nos emociona a todos e encanta mesmo aos não católicos. Em Buenos Aires, deixou a casa paroquial e foi morar num pequeno apartamento, onde cozinhava a própria comida. Andava de ônibus, visitava as favelas, sempre ao lado dos pequeninos do Reino.
Eleito papa, recusou as honrarias de praxe e preferiu manter seu feitio despojado e simples, buscando aproximar-se do povo que lota a praça São Pedro. Nas vestes, nos gestos, nas atitudes, o papa Francisco vem se fazendo notar.
Contudo, um membro do clero com essa projeção e estilo é sempre alvo de críticas. E o papa Francisco não está imune a elas. Fala-se de tudo, escreve-se de tudo e é preciso lucidez, discernimento para compreender o momento presente, o papel da Igreja no governo de seus fiéis, a preservação da doutrina, dos dogmas, da moral e das tradições cristãs, numa sociedade que, há muito tempo, perdeu o senso do sagrado.
Não será fácil comandar mais de um bilhão de fiéis e conquistar almas para o rebanho de Cristo. Quão pesado é o cajado deste pastor. Trata-se de um desafio colossal. Defender a moral católica num mundo que zomba dela.
Há um clamor por “reformas”, para que a Santa Sé reveja sua posição na sociedade de hoje. Sim, os católicos autênticos anseiam por um papa “reformista” no Vaticano. Uma reforma espiritual, trazendo de volta uma Igreja bela, humilde e santa. Que a doutrina seja um farol a brilhar e o santo padre, guiado pelo Espírito Santo, aja com firmeza e sabedoria frente a possíveis escândalos.
De fato, a Igreja precisa de algumas mudanças, mas não as que demandam do modernismo, das questões políticas e humanas. Sem jamais fechar seus olhos para as injustiças, cabe à Igreja o papel profético, o sustento da moral cristã que, se é rígida, tem sido bela e viva há mais de dois mil anos. Um jugo suave, um fardo leve.