Tarefeira
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Pelo jeito aquelas 129 operárias de uma fábrica têxtil em Nova Iorque, que em 1857 foram carbonizadas pelos patrões por exigirem diminuição da carga horária de trabalho de 16 para 10 horas diárias, morreram em vão, já que até os dias de hoje pouca coisa melhorou para a maioria das mulheres que trabalham fora de casa. Juntando todas as suas tarefas ela continua a trabalhar muito mais que deve.
Independência econômica, paridade e mesmo superioridade ao homem em muitos setores de produção. Esse é o papo oficial. Contudo, o que ela ganhou com isso? Quem de fato saiu lucrando foi o patrão, que usufrui de mão de obra de boa qualidade; além de barata, fiel e submissa. Esse endeusamento da mulher no mercado não passa de hipocrisia, pois a realidade é cruel. Independência financeira é outra balela porque o salário que uma trabalhadora recebe fica no sustento da família. Para ela mesma pouco sobra.
Lutar para ter seu próprio ganho implica assumir sozinha os riscos de sua decisão e a culpa que sua ausência do lar acarreta. Tomando o homem como parâmetro acabou perdendo seu próprio referencial, além de poupá-lo de responsabilidades, e não raro tê-lo como mais um filho para cuidar. Na hora do problema a escola não chama o pai, chama a mãe. Também o médico, a psicóloga, o vizinho, o Conselho Tutelar, etc. É muito difícil a mulher dar conta da carga que a sociedade colocou em suas costas, e que ela acabou assumindo sem questionar por receio de fazer feio. Com isso, ela vem se transformando numa tarefeira que não raciocina mais. Mecanicamente realiza diversas atividades ao mesmo tempo, chegando ao final do dia exausta e sem nenhum reconhecimento. Dorme picado, cochila onde a cabeça pende e envelhece mais cedo.
Sozinha e perdida nos múltiplos papéis que assumiu, acabou esquecendo-se de si. Talvez por isso recuse encarar seus anseios e sonhos mais profundos. O preço por abrir mão de sua própria essência é caro e a cobrança impiedosa. Tem de estar sempre bonita e em forma. Em busca dos rígidos e ilusórios padrões de beleza postos pelo mercado, muitas delas sucumbiram nas mesas de lipoaspiração, ou foram engolidas pela anorexia; ou se deformaram física e psiquicamente com drogas sintéticas e dietas mirabolantes.
A presença da mulher no mercado é irreversível, afinal ninguém merece depender economicamente de outros, e ter uma aposentadoria é seu direito. Além do mais, sua contribuição no desenvolvimento humano é indispensável, e trabalhar melhora autoestima e só faz bem. No entanto, é urgente jornada de trabalho mais branda para ela, ou mesmo garantir-lhe o sustento até que filhos pequenos ganhem autonomia.
Por outro lado, “Feministas têm valorizado a mulher de carreira e a posto num lugar mais alto que a mãe e a esposa. Isso, porém vai contra a maneira como a maior parte das mulheres no mundo se sente verdadeiramente. O movimento feminista tende a denegrir ou marginalizar a mulher que quer ficar em casa, amar seu marido e ter filhos… Está mais do que na hora de o feminismo conseguir lidar com a centralidade da maternidade”. (Camille Paglia, escritora norte-americana – Folha SP 21.10.07).
“A Ausência demorada da mãe acaba provocando sentimentos de angustia e desespero”. (Rosa Cukier – psicóloga PUC). “De nossa mãe podemos suportar qualquer coisa, menos o abandono”. (Judith Viorst, psicanalista norteamericana).