Populista

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populistaA diferença entre político populista e estadista só cego não vê. O populista prioriza demandas da população. Sabe que, além de relativamente barato e simples, satisfazer a massa garante vida política eterna. Afinal, como um povo fraco de instrução, desconhecedor da Constituição do próprio país e que nada entende das leis e códigos que regulam a vida da nação será capaz de ligar causas a efeitos? Por isso, o populista em vez de melhorar a Educação constrói escolas. Vistosas, claro. Seu Zé vai dizer que seu filho estuda na melhor escola da cidade.

O populista sabe que progresso para o povo tem a ver com carros, indústrias, empregos, economia e obras em ritmo chinês. Sai, então, à caça de empresas de grande porte; oferece-lhes infraestrutura, vias de acesso e isenções a perder de vista. A cidade bomba de gente. A massa fica eufórica.  Com planejamento feito a “zóio”, faltam vagas nas creches, unidades de saúde não dão conta, hospitais não têm vagas, ônibus são insuficientes, a especulação imobiliária explode, áreas verdes e de preservação são tomadas por barracos, o trânsito vira um inferno e mata porque a malha urbana não dá conta e não há sistemas de lazer para amenizar as tensões que a situação provoca. Daí que a violência exponencia e as doenças se multiplicam.

Está preparado o terreno para o populista fazer bonito. Com seu saco de remendos vai tapando rasgos que sua gestão causa no tecido social. Urbanizar favelas, por exemplo, é referendar o sistema de invasões e reconhecer que a cidade não tem política pública eficiente de habitação popular. Cada favela urbanizada é um pedaço de verde a menos e um ponto de alagamento a mais. Porém, os invasores, mesmo continuando a morar mal, serão sempre gratos ao gestor que legalizou seu ato ilegal. Os demais cidadãos aguardam sorteios; já se conformaram que casa própria é questão de sorte. Populista gosta mesmo de condomínios de alto padrão. Dão visibilidade e agradam o setor imobiliário. Para dar conta da voragem dos construtores, amplia o perímetro urbano sem discutir com a sociedade, afinal, o progresso não pode esperar. Sua imagem de destemido e arrojado vai se consolidando. Com apoio popular maciço, pode aprovar projetos imobiliários a torto e a direito, sem estudos de impacto ambiental e de vizinhança. Vem daí que avenidas viram rios e casas são invadidas pela água em tempos de chuva. Para o povo o toró é que foi demais. Nas creches cria vagas em meio período, amplia unidades para receberem mais crianças com os mesmos recursos e pessoal.  Constrói hospital, mas não tem como fazê-lo funcionar. O povo culpa o governo federal. Derruba árvores, alarga avenidas, ergue viadutos para dar vazão aos carros. O povo se espreme nas calçadas. Se morrer atropelado foi o “carro” que pegou e se pegou foi porque anda dormindo. Transporte público, bicicletas, etc. não estão nos seus planos. Em vez de lazer, que até serve para aliviar o estresse urbano, investe em atletas de alto nível, mesmo vindos de fora, para que a cidade esteja sempre no pódio nas competições regionais. Faz bem para o ego do cidadão. Quanto à violência, enche de câmeras a cidade, arma ainda mais a Guarda Civil, abre espaço para a construção de presídios e unidades da Fundação CASA.

Para que seu projeto governo tenha êxito, além de se aliar aos poderes da cidade, prepara e banca, antes das eleições, sua base aliada para ser maioria na Câmara a fim de que a oposição seja neutralizada e suas matérias sempre aprovadas, principalmente o Plano Plurianual e o Orçamento. Mangas arregaçadas, capacete na cabeça, óculos escuros e plantas nas mãos, o populista deixa-se fotografar já no romper do dia vistoriando obras.

Quanto ao estadista, basta ler o texto no avesso, já que “O verdadeiro estadista não pensa nas próximas eleições, mas sim nas próximas gerações”. (Benjamin Disraeli).

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