Gripe Lava Jato

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unnamedPeguei. Sim, peguei a tal “Lava Jato”. Creio que não foi dengue, nem a febre Chikungunya, e nem o Zika Vírus. Acho também que não foi a H1N1 – a gripe da moda, da qual se fala tanto e que devemos temer, com toda razão.

Duas semanas “de molho”, tive a sorte de ouvir um especialista em gripes falando na tevê. Ele dizia que é preciso diferenciar bem o tipo de doença que nos acomete. Ou seja, um resfriado comum, todos nós pegamos, de 2 a 3 vezes no ano. A gripe comum (H3N2) já tem um quadro um pouco diferente do resfriado. Causa febre, dor de cabeça, dores no corpo, pode inflamar a garganta, apresentar tosse e intolerância à luminosidade (fotofobia). Esta é a nossa velha conhecida de outros carnavais e com ela temos intimidade suficiente até para tratá-la e curti-la, sem necessidade de ajuda médica. Ingerir muito líquido, vitamina C, repouso e os comprimidos de praxe.

Mas essa gripe H1N1 exige mais cuidados e, se a pessoa julgar que sente algo além da tal gripinha nossa de cada ano, deve procurar um médico. Fiquei observando atentamente a minha e uma amiga querida me sossegou, pois todo mundo está pegando mesmo, é a tal “Gripe Lava Jato”.

Como em quase todos os meus estados gripais, tenho calafrios pavorosos. Desde que me conheço por gente, é assim, embora este ano tenha sido mais brando. Em geral, entro num estado de torpor existencial e me pergunto quem sou, de onde vim e para onde vou. A gripe me leva a questões profundamente metafísicas. É alucinante.

Creio que a gripe “Lava Jato” é a mesma que se costuma pegar já no outono, ou na entrada do inverno, todos os anos. Começa pela garganta e aí vai evoluindo para os demais estados que o vírus nos faz conhecer na palma da mão.

Gripada, o apetite some. Às vezes, o paladar também. Mastigamos um alimento sem sabor, não sentimos o gosto de nada. Que sensação horrível. Aos poucos, isso passa e voltamos a ter de volta a função das nossas papilas gustativas.

Uma vez, tive uma gripe que me derrubou, literalmente. Dias de cama. Febrão e visões do infinito, os planetas girando no espaço sem fim. Cosmo gripal. Doíam os meus dentes, doía a raiz dos cabelos e o globo ocular. Falar doía. Pensar doía.

Quando sarei desta gripe, lembro-me de sentir vontade de sair à rua, ver o sol lá fora, as pessoas, a luz bendita! Eu me cumprimentava por ter sobrevivido, por estar junto da família amada. Passava as mãos nas paredes da casa, tentando entender o que havia acontecido comigo por uns 4 ou 5 dias… E quando sarei de vez, pedi ao Senhor que nunca mais permitisse “aquilo”.

“Aquilo” foi terrível, assustador, medonho. Sim, senti medo. Era tanta fraqueza, tantas as dores de cabeça e nas articulações, que eu passava o dia na cama, sem coragem de me levantar. Fui ao médico, claro, pois uma tosse cavernosa me convulsionava a alma. Os remédios me dopavam, a ponto de cair num sono profundo.

Acho que aquela foi a gripe “Diretas Já”, se não me falha a memória. Mas esta da “Lava Jato” não fica atrás. E boa gripe para você, caro leitor. Sare logo!

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