Piracicaba em 1882: comércio aberto 24 h., bebidas e artigos importados
Ao se pensar o passado e se reescrever a história de uma região ou cidade, os detalhes, que fazem a diferença do modo de vida cotidiano, muitas vezes passam desapercebidos. É com o outro olhar, portanto, que se pode imaginar a Piracicaba do final do século XIX, a partir da análise de anúncios do antigo jornal “Gazeta de Piracicaba”.
A seleção, feita com objetivo completamente diverso, foi publicada no livro “E os preços eram commodos…”, de 2000, organizado por Marymarcia Guedes e Rosane de Andrade Welink. Trata-se de um projeto mais amplo, voltado ao estudo da língua brasileira, buscando recuperar exatamente a forma como ela se caracterizava, através da verificação da linguagem utilizada em vários jornais brasileiros. Os pesquisadores também se detiveram na “Gazeta de Piracicaba”, fixando a pesquisa nos anos de 1882 e 1883. Dela, entretanto, podem se extrair várias outras informações com relação à cidade, à forma de vida de sua população, aos recursos já disponíveis no comércio, aos produtos trazidos do exterior.
Comércio 24 horas
Embora a prática parecesse algo inovadora ao final do século XX e início do XXI, os anúncios indicam que, em Piracicaba, era possível se buscar produtos 24 horas por dia, em alguns estabelecimentos, inclusive aqueles que aten-diam próximo ao Salto. Havia, inclusive, opções que lembram, pela descrição, as atuais rotisseries, com comidas prontas, em grande variedade.
“Kioske do André no Salto
Encontra-se comidas quentes e frias a toda e qualquer hora do dia e da noite. Bebidas de diversas qualidades por preços baratíssimos. Serve- se tudo com promptidão e asseio”.
( 11/julho/1882)
“Casa do Gottlob Beny Mutichelle, Rua dos Pescadores, Grande e variado sortimento. Encontra-se comidas quente e fria a qualquer hora do dia e da noite…. Carneiro com ervilhas e feijão carrapato, lombo assado de porco, mortadellas, lagostas, sardinhas, presunto resphalia, queijos da suissa, completo sortimento de conservas de todas as qualidades.” ( 25/julho/1882)
Produtos estrangeiros com variedade
Um dos itens que impressiona na leitura dos anúncios é justamente a riqueza e a variedade dos produtos apresentados pelas lojas comerciais. Itens importados, vinhos, roupas, aparecem com freqüência, como que integrando o estoque normal do comércio local.
No mesmo anúncio já citado anteriormente da Casa do Gottlob Beny Mutichelle, destacam-se, entre os itens disponíveis,
” bebidas de toda e qualquer qualidade, como vinho champagne, Hungria, Rheino, Porto Fino,
Bordeaux. Variado sortimento de licor: Benedictino, Marraschino, Kimel legítimo, Cegnai, Jules Robin e Champagne. Vermute francês e italiano, Biller, Angustura e Citthau. Frutas inglesas em latas de todas as qualidades. Variado sortimento de charutos: Havana, hamburguezes,
Bahia. Tudo de primeira qualidade.” (25/julho/1882)
“Relojoaria e ourivesaria. De Camillo Pegeard , Rua do Comércio 73.
Neste estabelecimento encontra-se sempre quaesquer joias de ouro e prata, brilhantes, etc. Bem como um completo sortimento de relogios tanto de algibeira como de parede. Concertos
affiançados por um anno. Compra-se ouro, prata e brilhantes. Recebemos grande sortimento de charutos finos de diversas qualidades. Fumo Caporal francês legítimo, Rio Alvo, Barbacena,
Turco, rapé, piteiras de âmbar legítimo, cachimbos finos, palas, etc. Preços moderados.”
(2/março/1883)
Aluguel de fantasias no Carnaval
A cidade também se preparava para as festas populares. No caso do Carnaval, havia opções até para aluguel de fantasias. Para outras ocasiões, podiam ser adquiridos também fogos de artifício sem que fosse necessário se deslocar de Piracicaba.
“Roupas a phantasia para alugar. Amanhã, dia 25, principiará a exposição na Rua do Commercio, nº 71, do mais completo e rico sortimento de roupas, máscaras, cabelleiras,
bisnagas, poz, e tudo quanto é concernente ao carnaval. Preços baratíssimos.”
(24/janeiro/ 1883)
” Para o carnaval. O abaixo assignado encarrega-se de fazer máscaras conforme o gosto que as
pessoas desejarem. Rua da Palma, perto do senhor Jacob Diehl. João de Campos Mendes”.
(14/janeiro/1883)
“Armazém do Bugre, rua dos Pescadores, nº 1.
Esta casa offerece ao respeitavel público um completo e variado sortimento de fogos. Chineses, francezes, nacionaes, allemães, que só com a vista se verá a qualidade.” (11/julho/1882)