“Verás que um filho teu não foge à luta”

Adiós, ArgentinaJuro que até cheguei a torcer pela Seleção argentina. Durou apenas 15 minutos o meu entusiasmo. Imaginei o que seria de nós, brasileiros, se eles se tornassem campeões aqui em nosso quintal. Estaríamos no inferno até o final dos tempos. Demos-lhe, aos gringos, copa, cozinha, mesa de jantar e banquete. Eles não souberam curtir, coitadinhos. Então,  “adiós, hermanos”.

Por outro lado, a formidável realidade. O grande protagonista desta finalizada Copa do Mundo – tida, universalmente, como a maior e mais bela de todas – o grande protagonista, insisto, foi o povo brasileiro. Não foram governos ou governantes, instituições ou entidades, políticos pró ou contra, não foi nem mesmo o futebol – essa  jorrante fonte de paixões – os vencedores. O povo brasileiro venceu. E de forma encantadora, seduzindo o mundo com aquilo que esta nação e este país têm de mais generoso, de mais humano, de mais solidário.

Foi, sim, o maior espetáculo da terra. E, no Brasil, as nações se confraternizaram através dos torcedores vindos de todo o mundo, como se o ser humano – enojado de guerras, de violências, de injustiças, de corrupções mundiais – mostrasse – em nossas praças, ruas e estádios – que basta permitir se expandam os corações para, então, surgir a confraternização universal. Pois – nestas inesquecíveis semanas – foi o que aconteceu em terras brasileiras, nesse palco abençoado por Deus: a confraternização universal. E esse amor fez calar políticos, bandidos, vândalos, a gentalha de todos os níveis, incluindo as de cartola e colarinho branco.

Ora, direis ou haverá quem diga: esse homem está com olhar de Poliana. Ou passou a usar os óculos de Pangloss, enxergando o  Brasil inteiramente rosa. Danem-se. Eu vi, sim – com esses olhos que em 58 anos de jornalismo viram todas as imundícies tentando cobrir belezas – a verdadeira alma brasileira, que o pensamento único, que o materialismo desenfreado, que a farsa econômica e institucional têm-se esforçado a esconder ou a subjugar.

Meu Deus! Nesta Copa do Mundo, aconteceram os mais verdadeiros e legítimos protestos do povo. Contra as iniqüidades, contra as injustiças, contra as farsas, contra as mentiras, contra as dissimulações que, desgraçadamente, encontraram abrigo em grande parte da imprensa brasileira. O povo brasileiro protestou, impondo-se pela alegria, pela confiança, pela esperança, pela fraternidade – numa revolução pacífica que redespertou a alma da nação. Foram as manifestações da generosidade. Que deram concretude às convicções mais sábias e verdadeiras: “o belo salvará o mundo”. O povo brasileiro derramou o belo e o generoso, oferecendo-os a todas as nações.

A Seleção de futebol foi pequena para um Brasil tão grande. Mas isso não importa. Nossa gente entendeu que, mais importante do que sermos campeões de futebol, era mostrarmos a nossa grandeza como povo e como nação. O Brasil foi grande, imenso diante desta Copa. Mas a Seleção, pequena para o Brasil.

No entanto, mesmo nos amargores de derrotas futebolísticas humilhantes, o povo estimulou, aplaudiu, incentivou, tentou transmitir sua força espiritual. Debalde, pois a comissão técnica e os jogadores eram frágeis. Mas, ainda que no fracasso retumbante, o povo brasileiro bradou à mãe-Pátria: “Verás que um filho teu não foge à luta.” E, na verdade, a luta apenas começou. Pela grandeza contra a mediocridade. Pela esperança, contra o pessimismo. Pelo amor, contra os ódios. E assim será. Não importa sejam, os meus,  olhos de Poliana ou de Pangloss. O fato é que assim foi e que assim será. Bom dia.

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