A insustentável leveza do ser

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Um dos mais brilhantes livros do consagrado escritor checo, Milan Kundera, leva o título instigante de “A insustentável leveza do ser”. Kundera mostra – num romance erótico e político – como, na vida, quase tudo aquilo que apreciamos e escolhemos  pela leveza, logo se revela de um peso insustentável. A leveza do ser é insustentável. E, portanto, também insuportável.

Isso vale, penso eu, em nosso cotidiano. E, de maneira especial, no cenário político. Todo bonzinho, todo político afável, leve  e simpático na sua aparência e atuação – todos eles acabam, algum dia, revelando-se insustentáveis. E insuportáveis. Kundera faz seu estudo de maneira elegante, refinada, culta. Mas essa mesma conclusão, quem a teve – de maneira áspera e rude – foi, lembro-me bem, o nosso saudoso e controvertido Romeu Ítalo Rípoli. Ele, querendo orientar-me – e admito ter sido, o Rípoli, um dos homens com quem mais aprendi sobre a vida prática – dizia, especialmente em relação a um refinado político de Piracicaba, ainda atuante: “Cuidado com os bonzinhos! Por trás de todo bonzinho, sempre há um grande filho da p…” Obviamente, ele não se referia à mãe de ninguém. Era uma forma de expressão.

Na vida política, os exemplos são abundantes. E isso, claramente, comporta exceções. E depende, também, da avaliação de cada um. Pois, quando se torna reação coletiva, o colapso pessoal do político acontece. De minha parte, acho que uma das exceções é, ainda, o Senador Eduardo Suplicy. E continua com uma leveza por assim dizer simplória e ingênua. E é sustentável. Portanto, suportável e até simpática. Confesso, porém, não saber se tão eficiente.  Será – convenhamos – que a leveza, por exemplo, do Geraldo Alkmin já não está à beira do insustentável? E a do nosso aparentemente cândido Antonio Carlos Thame?

Não é, porém, na nossa brava gente piracicabana que penso. Deixo-a em paz, pelo menos por enquanto. Meu pensamento – e náusea conseqüente – é perturbado por aquele senador nordestino, do DEM, José Agripino Maia. Juro que consigo até mesmo suportar o José Sarney, o ridículo implante capilar do Renan Calheiros. Esse José Agripino Maia, no entanto, não dá. Meus estômagos – do corpo e da alma  – regurgitam. A mim, repercute quase que obscenamente o cinismo de tal homem. Como pode ser líder de qualquer coisa,  a não ser dos pobres diabos que se sujeitam ao seu mandonismo de velho coronel potiguar, de vice-rei do Rio Grande do Norte?

Essa oposição brasileira é de uma fragilidade e hipocrisia de dar pena. E Agripino Maia é o modelo mais lastimável. As suas declarações – logo após o encerramento de uma Copa do Mundo que encantou os povos e as nações – mostram a maneira irresponsável como ele trata a população, como se fôssemos uma frágil manada de imbecis.

Pois – antes da Copa e durante os preparativos – Agripino Maia foi um dos líderes do cassandrismo, do terrorismo covarde, do pessimismo tóxico. Ele lançava, sobre o governo federal, toda a responsabilidade de atrasos e de custos, como se não houvesse, no processo, governos municipais e estaduais. Foi anunciado o “Não vai ter Copa”. Foi desejado ardentemente que não tivesse, que fracassasse.E tudo seria por culpa do governo federal, a quem Agripino atribuía toda a responsabilidade.

Pois bem. Agora, após o sucesso e a admiração do mundo pelo Brasil, Agripino Maia – com o cinismo dos oportunistas – proclama e insiste: “O sucesso inegável foi devido à eficiência da participação da iniciativa privada. Sem esta, o fracasso seria total.” Para Agripino, o sucesso é das empresas; houvesse fracasso, seria do governo. Ele jamais diria, se tudo desse errado, que a responsabilidade foi da iniciativa privada. E a chamada grande imprensa – tornando-se comparsa – enfatiza a farsa, dá espaço à simulação e exerce, cada vez mais eficientemente, a arte da dissimulação.

A insustentável leveza de Agripino Maia – como a da maioria dos nossos políticos –  tornou-se insuportável. Ainda mais do que antes. Bom dia.

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