“In Extremis” (234) – Que pena!

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“Tudo que é vivo sujeita-se a processos de transformação. A árvore – um dos mais característicos símbolos mitológicos da Vida – dá-nos como que um testemunho sagrado.” (imagem: Jeremy Bishop / Unsplash)

Esta nossa Piracicaba tão querida era, sim, risonha e franca. Tal qual a escola do poeta. Conforme a lenda, a previsão de Nossa Senhora – indo-se embora, triste, lá à curva do rio – parecera ter-se confirmado. “Esta nunca será uma cidade grande” – predissera a santa. Pois, por privilégio, nosso destino sempre foi o de ser uma grande cidade, bela e formosa.

E que ninguém me diga de mudanças e transformações. Pois sei disso. Mas não entendo que, quase sempre, elas aconteçam para piorar o que existia. Há-se que acreditar mais seriamente na milenar sabedoria francesa: “Plus ça change, plus c´est la même chose”. Sim: “tudo deve mudar para que tudo fique como está” – sabedoria consagrada por Giuseppe di Lampedusa, em sua obra “O Leopardo”.

Mudar não significa extinguir. Nem mesmo extinguir-se. Tudo que é vivo sujeita-se a processos de transformação. A árvore – um dos mais característicos símbolos mitológicos da Vida – dá-nos como que um testemunho sagrado. Transforma-se a cada período, dando flores, frutos, murchando, envelhecendo. Para, em seguida, rejuvenescer-se. Altera-se, permanecendo, porém, em sua essência a partir das raízes. Enquanto, pois, raízes estiverem vivas, vivo, também, estará o ser por ela alimentado. Acontece, também, com as cidades, esse ser pulsante sujeito a muitas transformações.

Estamos, no entanto, preparados para os desafios que já nos foram postos? Quais os novos e grandes problemas comuns que afetam a comunidade? Até onde políticas administrativas anteriores capacitam governantes públicos e legisladores para encontrar soluções? E eles, homens públicos e candidatos a serem-no, estão habilitados para a busca de respostas e soluções? Haverá espaço para partidos políticos lançarem candidatos apenas por terem popularidade ou por representarem segmentos sociais, em especial os religiosos? O que esse malfadado conúbio entre política e religião tem a oferecer? Seria o céu, o paraíso para outra vida ou condições para a comunidade sobreviver com dignidade em sua condição terrena?

A História conta-nos das verdadeiras tragédias sociais, econômicas e, portanto, também políticas quando o cristianismo se tornou “religião oficial”. Foi um entendimento político, movido e motivado pelo Poder. Por muitos séculos, procurou-se justificar a esperteza de elites como “vontade de Deus”. Reis, monarcas, governantes eram verdadeiramente ungidos através de atos religiosos. Pois, lembremo-nos, diziam-se escolhidos por Deus, naquela inexplicável e ininteligível Trindade, tendo o Espírito Santo como inspirador. Ora, se, na política, acontece a vontade de Deus, estaria mais do que na hora de responsabilizar o Criador por todas as mazelas, roubalheiras, farsas, injustiças e malandragens que a humanidade já assistiu. E isso não é verdade. Pois, se o fosse, seríamos apenas joguetes da vontade divina.

Ora, seria, realmente, verdade que “tudo muda para ficar tudo igual”? Se for quanto à essência das coisas, deve ser assim.  Mas mudanças há que destroem, que exterminam. Sistemas políticos, econômicos, ideologias alteram e extinguem. Os chamados desenvolvimento, progresso transformam, mudam, constroem e destroem. Culturas são destruídas. Costumes, hábitos, tradições, heranças também. O ser humano não se cansa de ser o grande predador do paraíso.

Penso em Piracicaba, terra querida. O que estão fazendo dela? Até quando a população irá escolher dirigentes que ignoram uma história privilegiada de cultura, de ciência, de educação, de conquistas? As chamadas e antigas “forças vivas” ainda existem? Se morreram, que pena!

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