“In Extremis” (214) – O triste desprezo à “Noiva”

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(foto: Helder Prado / pesquisa Google)

Na opinião deste idoso jornalista, beira à indignação constatar que algumas lideranças locais – especialmente políticas – parecem ignorar a hora histórica de transformação na qual vive a humanidade. Fingem ignorar ou realmente ignoram? Eis a indagação angustiante, pois é o destino de uma cidade, de um povo, de uma história que se vai comprometendo. A esperança está em dia chegar quando se exigirá curso vestibular para candidatos a cargos eletivos. E, também, para eleitores. Acontecerá, então, a consciência de responsabilidade diante da causa comum. Que, ao final de tudo, define destinos. E o nosso, por enquanto, está comprometido. Ameaçado.

O mundo sempre viveu de ficções políticas. E algumas delas causaram tragédias inomináveis. Guerras, genocídios, tiranias, golpes de estado, escravaturas, projetos econômicos injustos. E, como sempre e ainda, vitimando as populações mais carentes. A tragédia é mundial. Esse horror nos atinge a todos, embora tolos e oportunistas preguem e apregoem estarmos distantes demais dos conflitos globais. Somos uma unidade. Poetas e pensadores – que sabem das coisas melhormente do que nós – já compreendiam: “quando cai uma folha, as estrelas tremem.”

Há uma questão fundamental, creio eu, sobre a qual deveríamos discutir e refletir: o que é uma cidade? E, ao redescobrir ser o lar coletivo, indaguemo-nos: que cidade desejamos para nós? O que é Piracicaba hoje? Para onde estamos indo? Enquanto alguns insistem em louvar e incensar essa ficção política chamada RMP, não se fala da essência das comunidades, que é a população. Quais, dos dirigentes e políticos, atentam para a realidade de cultura nada mais ser do que herança? A cidade, na História, nasce como morada de um deus, um santuário, um abrigo para a sua gente. Ela, pois, tem alma original, alma de aldeia. Qual a alma da artificialidade da tal RMP? Por que a estupidez de trocá-la por nosso secular espírito de pertencermos a uma “Noiva da Colina”?

Esta “Noiva” – que, também, foi o Ateneo, Atenas Paulista, Florença Brasileira – seria capital da região metropolitana. Isso implicaria reconhecer-se como metrópole. Mas os incautos não sabem ou esquecem que o destino da Metrópolis é tornar-se Necrópolis. Pois civilizações chamadas metropolitanas carregam, em e por si mesmas, forças explosivas que matam até mesmo traços daquilo que existiu. Esse desprezo à “Noiva da Colina” – cidade que   ainda existe, sobrevivendo – será responsável por uma inevitável e lenta agonia da identidade de uma terra construída ao longo de mais de dois séculos. E que não se chame de progresso tal ameaça. Trata-se de um retrocesso. Progresso é avanço desde que favorável à comunidade e não apenas a alguns.

Nossas lideranças empresariais e políticas poderiam recorrer a especialistas que lhes sejam fontes para novas análises e reflexões. Pois Piracicaba corre o risco de se tornar Megalópolis. E esse será o fim, pois a realidade histórica já ensinou: de aldeia à vila; de vila à cidade. Mas cidades, quando chegam a ser Metrópolis, transformam-se, rapidamente, no horror ingovernável da Megalópolis.

A dúvida permanece: tais lideranças ignoram as transformações do mundo e da humanidade – ou fingem desconhecer visando a outros interesses? Os povos retomam a inevitabilidade do Eterno Retorno. Vendo que não há mais para onde ir, retornam às suas raízes. As grandes metrópoles já buscam recuperar os seus centros históricos, tradições, culturas. Piracicaba tem uma singularidade privilegiada. Estariam faltando lideranças capacitadas para entendê-la?

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