Pesquisa mapeia impacto do lockdown na gestão dos Parques Nacionais

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Parque Nacional da Serra Geral. (imagem: Assessoria Comunicação Esalq)

Um estudo desenvolvido no curso de Gestão Ambiental da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), indicou que a interrupção de pesquisas científicas e dos projetos com a população local foram os efeitos mais sentidos por gestores de Parques Nacionais brasileiros a partir da pandemia de Covid-19.

“Nas regiões onde o turismo é o motor principal da economia local, o impacto com perda de receita foi grande e as pesquisas também foram suspensas”, indica a professora Teresa Cristina Magro, orientadora do trabalho de conclusão apresentado pela estudante Louise Gunter de Queiroz.

A docente lembra que, seguindo as orientações da Organização Mundial da Saúde de manter distanciamento social para conter a pandemia, o governo decidiu fechar todos os parques nacionais a partir de 17 março 2020 para visitação pública. “Três meses após seu fechamento alguns parques iniciaram o processo de reabertura gradual para visita e pesquisa. Com grandes diferenças regionais e biomas completamente distintos, os gestores tiveram que lidar com pressões diversas e problemas específicos”.

Gestores

O estudo procurou responder o que a atual pandemia representou para os gestores dos parques nacionais no Brasil. Para tanto, Louise enviou questionários para gestores de todo o País. “Procuramos entender 1) Como as atividades foram executadas; 2) Se houve pressão para a reabertura; 3) Se houve aumento das infrações após o fechamento; 4) Alteração no padrão de visualização da fauna por funcionários em escala de trabalho e; 5) Qual a visão do gestor durante o fechamento obrigatório do parque”, explica a gestora ambiental formada pela Esalq.

Além disso, segundo o relato dos gestores, ficou evidente que o fechamento obrigatório dos Parques promoveu um aumento da presença de caçadores. “Da mesma forma houve um aumento da pesca, tanto recreativa ou como fonte de renda. O garimpo também aumentou e os gestores enfatizam que Parques sem controle de entrada de visitantes levam ao uso intenso e desordenado. Essa condição, aliada a falta de regularização fundiária, representa um cenário propício a infrações”, complementa a autora.

Novo normal

O estudo teve como base o relato de 44 gestores de parques brasileiros e, ale, dos impactos já citados, a falta de oportunidades para usar os recursos financeiros disponíveis devido ao lockdown, a falta de locais ao ar livre para a população praticar atividade física, a crescente desmotivação entre a população indígena e o acúmulo de trabalho na manutenção de trilhas também são questões pendentes apontadas pelos gestores. “Acreditamos que o cenário ideal poderia contemplar a reabertura dos parques para os moradores da região como opção para a prática de atividade física e de contato com a natureza. Também nos parques com a presença de indígenas, ribeirinhos e quilombolas deveria ocorrer uma abertura parcial com a restrição de visitantes externos”, sugere Louise Gunter de Queiroz.

A professora Teresa Magro levanta a hipótese de que, mesmo se os parques pudessem abrir suas portas sem qualquer restrição, eles enfrentariam no curto e médio prazo uma escassez de visitantes devido à crise instalada no setor do turismo. “Será que o número de visitantes vai se recuperar um dia aos níveis pré-pandemia? Tem surgido muitas incertezas com o nascimento de novo normal, a sociedade de um metro e meio. As viagens aéreas, tanto internacionais como domésticas, tendem a diminuir. Isso não só traz grandes mudanças para o setor de turismo, mas também para os parques cujo gerenciamento se apoia fortemente no número de visitantes. Acreditamos que o fluxo de ecoturismo será menor do que o nível pré-pandemia e isso força os parques a se adaptarem para cumprir suas agendas relacionadas ao uso público”, avalia a docente.

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