Em 1988: “as escolas de samba querem a alegria do povo”

O texto abaixo foi publicado em janeiro de 1988 no semanário impresso A Província. Fala sobre o carnaval daquele ano, expectativas e programação. Preservamos datas, idades, comentários e gramática originais do texto.

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“O Carnaval de Piracicaba está crescendo”. A afirmação é do coordenador de Turismo da cidade, José Maria Paes da Silva, o Japão. Para ele, isso já pôde ser comprovado no ano passado, quando duas escolas do primeiro grupo, Portela e Caxangá, estavam praticamente desativadas, mas acabaram saindo. E para este ano, já há a formação de uma nova agremiação, a Caçula, do bairro CECAP, que Japão considera “um filhote do trabalho que estamos desenvolvendo na Cootur”.

Para o coordenador, a constatação do crescimento do carnaval é, em primeiro lugar, numérica. Neste ano, nove escolas de samba irão desfilar no domingo e na terça-feira na avenida Armando de Salles Oliveira. Pelo primeiro grupo saem Ekyperalta, Zoon-Zoon, Caxangá e Portela-Treze de Maio. E pelo segundo saem Imperatriz do Samba, Beira Rio, Unidos da Cidade Alta, Império do Samba e a iniciante Caçula.

Além disso, continua neste ano o desfile de blocos, iniciado no ano passado e que Japão afirma ser  “um fato positivo, pois eles representam um elo de passagem entre o pessoal que brinca na rua até a formação de uma escola de samba”.

Quatro blocos já estão praticamente confirmados para 88: o Absalão; um da Vila Rezende, formado por associados do Atlético e que se chama “Piruletta”; o “Chucrute com Feijão”, organizado por moradores do bairro dos Alemães e um outro do pessoal da Vila Independência. Para ele, “o trabalho de incentivar a formação de blocos carnavalescos sempre foi uma coisa desaconselhada para mim, mas considero significativo, pois eles podem trazer uma renovação”.

O coordenador também diz que o carnaval da cidade está crescendo em termos de organização. Os quatro dias terão programação na rua, com o desfile de blocos e trio elétrico no sábado e segunda-feira, além da gravação em nível profissional dos sambas-enredo de todas as escolas. E também quanto às arquibancadas. “Elas serão aumentadas neste ano, e as escolas de samba irão receber uma porcentagem da renda líquida obtida. Quem irá tomar conta é a Associação dos Funcionários Municipais, que já tem experiência sobre o assunto, já que arquibancada é considerada um abacaxi, pois dá um grande trabalho e sempre acontecem reclamações”.

ASSOCIAÇÃO DAS ESCOLAS 

Ainda em relação à organização do carnaval, Japão acredita que o trabalho desenvolvido pela Cootur em conjunto com as escolas de samba está considerando como fundamental o respeito ao público. Assim, revela que “a verba destinada pela Prefeitura, que é de 230 mil cruzados para o primeiro grupo e 168 mil para o segundo, ficará com retido até o dia do carnaval, quantia que só será concedida para as escolas que cumprirem o horário determinado”.

Em sua opinião, a mudança do regulamento dos desfiles é um fato importante, “pois ele estava se tornando cada vez mais paternalista, com penalidades muito brandas para quem não o cumprisse e a coisa tem que ser feita em termos mais estruturados”. Assim, neste ano haverá várias modificações, que surgiram por iniciativa das próprias escolas, como a de não se conceder mais 15 minutos de tolerância para a hora de entrada na avenida e o aumento do tempo do desfile, que passou de 80 para 90 minutos no primeiro grupo e de 65 para 70 minutos no segundo grupo.

Japão acredita que este trabalho fica reforçado pela criação, durante o ano passado, de uma Associação das Escolas de Samba da cidade. Para ele, a associação muda bastante a maneira em que é preparado o carnaval de Piracicaba, “pois a união deles é importante para que a coisa seja vista como um todo, porque antes o que eu sentia é que uma escola vinha procurar a Cootur para que nós resolvêssemos seus problemas específicos. Agora isso pode ser diferente, a partir do momento em que eles passem a discutir as suas questões como um todo e sem esperar paternalismos”.

Para ele, isso contribui para uma evolução, “eu até já posso acreditar que agora existem verdadeiras escolas de samba em Piracicaba, que possam vivenciar a preparação do carnaval durante o ano inteiro”.

Quanto ao papel da Cootur, acha que é o de fornecer apoio, sem maiores interferências. “Se depender do nosso apoio, eles terão, mas queremos cada vez mais fugir do paternalismo. Ainda existem na cidade certos resquícios disso, como quem afirma que ‘se a Prefeitura quer um carnaval bom, tem que pagar pras escolas’, mas eu espero que isso diminua”.

SAMBÃO JÓIA 

Japão também já foi carnavalesco, durante alguns anos foi autor de enredo para a extinta escola Ekypelanka, que participou da fase áurea das escuderias no carnaval de Piracicaba. Sobre aquele tempo, hoje ele diz “que na verdade coincidiram com um modismo da década de 70, o “sambao-jóia” em que a classe média passou a se interessar e a participar do samba”. Assim como hoje todo mundo quer ter um grupo de rock, na época a moda era a roda de samba e o desfile nas ruas surgiu em decorrência disso. Mas isso trouxe frutos positivos, porque abriu espaço para muita gente e hoje só ficou quem realmente gosta e entende de samba.

O coordenador acredita que Piracicaba tem uma tradição de samba, e hoje as escolas estão preocupadas com este fato.

Tanto que mudaram o nome do troféu que é oferecido à vencedora. O anterior, que está de posse definitiva com a Ekyperalta, se chamava “Cássio Pascoal Padovani”. O atual se chama “Belarba”, que foi um dos maiores incentivadores do Carnaval de rua da cidade.

 

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