Ainda a respeito do nome Piracicaba

Este texto foi publicado, originalmente, na edição de outubro de 1998 do jornal impresso “A Província”.

salto-do-rio-Piracicaba_Archimedes-Dutra

“Salto do Rio Piracicaba”, obra de Archimedes Dutra

O significado da palavra Piracicaba tem permitido, ao longo da nossa história, diversas interpretações, quase todas, no entanto, com a ideia de “lugar onde o peixe pára” – para sermos mais sintéticos. Em publicação do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba, de 1989 – “Piracicaba: Dois Estudos” – o prof. Júlio Soares Diehl, já falecido, publicou uma memória descritiva do rio, abordando, também, a questão da origem do nome. Publicamos, por seu oportuno, trechos daquele trabalho:

“(…) Acho caber aqui uma pergunta: Que significa o nome Piracicaba?”

Há muitos anos, em artigo que escrevi para o jornal, tratei o assunto, transcrevendo, a título de curiosidade, a opinião do dr. João Mendes e Almeida, em seu Dicionário Geográfico da Província de São Paulo, publicado em 1902. Vejamos o que diz o dr. Mendes de Almeida:

“Segundo Martius, o nome Piracicaba significa lugar onde se junta o peixe. O verbo CI não exprime a reunião de muitos; portanto, é sem procedência aquele significado de Martius e de muitos outros que, sem critério algum, o têm seguido. Mais se aproximaria da verdade o dr. Francisco José de Lacerda e Almeida, no seu “Diário de viagem pelas capitanias do Pará, Rio Negro, Mato Grosso e São Paulo”, nos anos de 1780 a 1790, quando diz que “o nome Piracicaba é dado ao salto em razão de nele pararem e chegarem os peixes; porque ‘Pirá’ é peixe, ‘Cicaba’ quer dizer chegam”.

Entretanto, embora admitindo que isso mais se aproxima da verdade, contesta logo em seguida:

“CICABA não quer dizer ‘chegam’: significa chegada e passagem, porque os verbos CI, ‘chegar’, e QUAB, ‘passar’, com o acréscimo de A (breve), ficam formados no infinitivo, o qual, não tendo caso, significa a ação do verbo em geral – segundo a lição do padre Luiz Figueira, em sua “Arte da Gramática da Língua Brasílica”. Isso teria feito o indígena, simplesmente por jogo linguístico.”

“Mas – prossegue o mesmo autor – não é aquilo de admirar em Martius, pois que o cônego João Pedro Grai,  na História Jesuítica do Paraguai, capítulo 23, escreveu que ‘Piracicaba significa tem dó do peixe’. Simplesmente um não senso”.

“Este lugar é um dos que mereceram aos indígenas maior ciência e esforço para denominação; e esta serviu também para o rio inteiro, porque o salto é realmente característico. Sim, o nome é dado ao salto, porque esta obra da natureza assinala o rio, dividindo-lhe o curso.”

“Piracicaba, corruptela de PIHÁ-CI-QUABO, “de degrau em degrau, aos golpes”. De PIRHÁ, “degrau, escada”; CI, partícula distributiva; QUÁ, “golpes”; BO, breve para exprimir o modo de estar. É pronunciado PIHÁ-CI-CA-BO. Alusivo a caírem as águas aí de degrau em degrau, e às quedas, espumando”.

“Os indígenas quiseram assinalar a forma do salto, mais uma série de cascatas, em escadaria, do que propriamente um despenhadeiro de águas. Não se trata, portanto, de peixes em ajuntamento ainda que, como em outros saltos, aí os peixes, no tempo próprio, saltem aos cardumes, não podendo resistir ao impulso das águas”.

“O H de PIHÁ é aspirado, e a corruptela em PIRÁ foi fácil”.

 

Deixe uma resposta