Sud: o patrimônio da província

O texto abaixo foi publicado em outubro de 1987 no semanário impresso A Província. Preservamos datas, comentários e grafia do texto original.

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Até o final do século passado, o ensino em Piracicaba era transmitido apenas por escolas com formação doutrinária, como o Colégio Piracicabano de Miss Martha Watts (1881) e o Colégio das Irmãs de São José (1893, hoje Assunção). Em 25 de junho de 1893, é inaugurado o prédio da Sociedade Propagadora de Instrução, na rua do Rosário, atual escola Industrial.

Segundo a historiadora Marly Therezinha Germano Perecin, responsável pela Biblioteca da Escola Estadual de 1º e 2º Graus “Sud Menucci”, onde estudou e foi professora, “faltava a Piracicaba uma escola laica, coerente ao ideário republicano”. Assim, a 9 de janeiro de 1897, uma lei municipal faz com que o domínio do prédio da Sociedade Propagadora de Instrução passe ao governo estadual, para ser ali criada a Escola Complementar.

Em 21 de abril do mesmo ano, acontece a sua instalação, e passaria a desenvolver estudos em nível secundário com a duração de 4 anos, dentro da finalidade específica de formar professores para o exercício do magistério. Em março de 1911, a Escola Complementar passou a chamar-se Escola Normal Primária, e em 1916, sua sede era transferida da Rua do Rosário para a Rua São João, 1121.

Foi feita a cobertura fotográfica do novo edifício desde a abertura dos alicerces até a sua inauguração, o que permitiu, em 1985, a formação do processo de reforma e restauração daquela instituição de ensino, hoje “Escola Estadual de 1º e 2º Graus “Sud Menucci”.

O tombamento

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A necessidade de restauração completa do prédio vem do fato da Escola pertencer à história da educação do País, além de conter obras de arte que fazem parte do acervo artístico e cultural brasileiro.

Além disso, entre os anos de 1957 e 1963, foi realizado um “banho de tinta” sem consulta aos meios artísticos do Estado, sendo então escondidas as pinturas feitas pelo italiano Luigi Lacchini, de grande beleza e importância para a história do País.

Assim, em agosto de 1985, a atual diretora do estabelecimento, Arlete Gonçalves de Camargo, juntamente com professores, alunos e ex-alunos do Sud, pediu o tombamento da Escola enviando telegramas à Secretaria de Estado da Cultura, em nome do CONDEPHAAT — Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico.

Em novembro do mesmo ano, a diretora foi comunicada por aquele Conselho da abertura do processo n.0 24243/85, destinado ao tombamento do edifício em que se localiza a Escola. Isso significa que está

Assegurada sua preservação até a decisão final do CONDEPHAAT e que qualquer intervenção no imóvel como modificação, reforma ou destruição, deverá ser autorizada por tal Conselho, a fim de evitar descaracterizações.

Desde então, têm sido efetuados os trabalhos de restauração do local, pelo Dr. Benedito de Lima Toledo. Tudo tem que ser feito com muito cuidado, senão pode ocorrer o embargo paralisação das obras, quando algum cômodo foge da linha antiga de restauração.

A diretora Arlete disse que não há prazo para a conclusão das reformas, interessando apenas a qualidade final dos trabalhos. Deverá ser também realizada a restauração cuidadosa do material interno da Escola, como móveis, já que podem ser considerados como relíquias.

AS OBRAS DO MESTRE LACCHINI

O pintor italiano Luigi LacChini tem cinco importantes painéis de estilo neoclássico na Escola, três históricos e localizados no Salão Nobre, atual Biblioteca, e dois alegóricos que estão no Saguão.

No Salão Nobre, a intenção do pintor foi contar a história da luta pela liberdade no Brasil durante o século XIX. No primeiro painel está Diogo A. Feijó; o segundo simboliza a Lei do Ventre Livre, e o terceiro a Proclamação da República.

Já no Saguão, os painéis são totalmente diferentes dos anteriores. Ali Lacchini pintou com a intenção de enriquecer o patrimônio cultural da Escola, pois estão constituídas alegorias que retratam figuras clássicas greco-romanas, e estilizações que reforçam a homenagem feita às “Ciências Físicas, Naturais, Experimentais, ao Saber e às Artes em geral”.

Além disso, a Escola possui oito telas a óleo com assinaturas de artistas acadêmicos e relógios de parede de grande valor histórico. Em tempo: voltarão a fazer parte do prédio as escadas de madeira e os vitrais coloridos.

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