Terceira cidade paulista, de “verde sem igual”

Foto: Valter Luciane/Olhares

Em 1899, Piracicaba era uma cidade com cerca de 20 mil habitantes. Mas já se orgulhava de ser considerada, desde 1894, a terceira cidade do interior da Província de São Paulo, superada apenas por Campinas e Sorocaba, não contando Santos, cidade litorânea. Aqui, produziam-se 4,16% da produção de algodão de São Paulo e 6,32% dos produtos de citricultura, conforme ainda registrado nos Arquivos do Estado. Desde o Império, Piracicaba já constava dos anais brasileiros, a partir das anotações do historiador e dicionarista J.C.R.Milliet de Saint Adolphe que, em seu Dicionário Histórico e Geográfico Descritivo do Brasil, traduzido em 1845 por Caetano Lopes de Moura, escrevia sobre a vila ainda com o nome de “Constituição”:

Uma das grandes discussões sobre a localização do povoado de Piracicaba foi se à margem direita ou esquerda do rio. Saint Adolphe ajuda a dirimir dúvidas. Registra, em 1845: “antiga povoação de Piracicaba e nova vila da província de São Paulo, 30 léguas a noroeste da capital da mesma província, esta pequena vila está situada numa planície risonha, perto da margem direita do rio Piracicaba e duma cachoeira que interrompe a sua navegação.” Ainda segundo Saint Adolphe, a população estava avaliada em “2.500 almas” e pela cidade “passava a estrada que de Cuiabá trazia a São Paulo pela margem do rio de São Lourenço.”

Outro intelectual respeitável, cujos textos Manoel de Camargo acolhera em seu “Almanak”, foi o dr. Alfredo Moreira Pinto, historiador e dicionarista dos mais importantes à sua época. Arguto, cáustico, anticlerical, o historiador tentou dissecar a Piracicaba que se tornara republicana após grande domínio dos monarquistas e dos barões. “É bonita a sua posição, oferecendo pitorescas paisagens para qualquer lado que o observador se volte. (.) Os largos são acanhados, com exceção do da Matriz, onde se acha um bonito e bem tratado jardim, em cujo centro ergue-se um artístico repuxo, oferta do sr. Júlio Conceição. (.) É uma das cidades de mais vida das que tenho visitado nesse Estado.” Mas o historiador se lamentava também: “sendo causa de pesar a enorme ascendência que o clero exerce sobre o povo. O sentimento religioso é tal que chega ao fanatismo e à intolerância.”

O fato é que, por mais se gostasse de Piracicaba, era, ela, uma cidade ainda com muitos problemas: “As principais ruas são planas, algum tanto sujas(!) e apedregulhadas. (.) Não são arborizadas o que, além de dar-lhe maior elegância, seria um repositório de bom oxigênio espalhado pela cidade. (.) As casas, na sua maioria, são do tipo antiquado, havendo, porém, muitas novas e sem gosto. É abastecida de água do rio, não filtrada, e iluminada à luz elétrica, que deixa muito a desejar.” Era assim que o ilustre dr.Alfredo Moreira Pinto via Piracicaba que, além do mais, experimentava conflitos entre brancos e negros, brasileiros e estrangeiros, republicanos e monarquistas, católicos e protestantes.

Verde sem igual

Antes disso, porém, houve um registro da Cidade, anotado pelo historiador Affonso E.Taunay, a partir das impressões do diplomata suíço, Barão de Tshuldi, sobre a Piracicaba de 1860. A descrição do Barão historiador parecia um hino de encantamento pela cidade.

Escreveu Tshuldi: “uma cidadezinha com aspecto de extensa aldeia, com muitas casas espalhadas. Quando o viajante se aproxima, se lhe depara a povoação cerrada, moldurada por uma série risonhas casas de campo, no meio de magníficos laranjais e bananais.” Nas anotações do diplomata, consta que Piracicaba tinha “4 fazendas de cana, 29 de café, 6 de chá e 4 de criar.”

Em seu hino àquela pequenina Piracicaba, o Barão de Tshuldi garante “jamais ter visto, em parte alguma do Brasil, verde tão substancial e exuberante como ali, impressão sem dúvida produzida pelo contraste da cor vermelha do solo com o verde realmente intenso da vegetação.”

Autor: Cecílio Elias Netto
Fonte: Memorial de Piracicaba Século XX (Almanaque 2000), Acervo A Província.

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