Vinho de mel: um doce e santo remédio

O texto abaixo foi publicado em abril de 1988 no semanário impresso A Província. Recuperamos para lembrar os 30 anos de atuação em Piracicaba.

vinho

Numa região onde a cana-de-açúcar é a principal cultura, o remédio é aproveitar o produto o máximo possível. No caso, seguindo o exemplo das abelhas que se aproveitam também do néctar existente nesta planta para fabricar o mel, tão nutritivo (rico em ferro, fósforo, cálcio, magnésio) como o mel de laranja ou de eucalipto. Informações que a maioria dos consumidores desconhece e que por ignorância elimina da lista de compras o mel de cana-de-açúcar.

Para tentar acabar o preconceito contra o mel da cana-de-açúcar, o apicultor e tecnólogo Edson Franzoni, funcionário da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, começou a estudar e a fabricar o vinho de mel. É uma forma de aproveitar o valor nutritivo do alimento e o trabalho das abelhas, em prol do homem, já que o vinho de mel é um santo remédio (e barato) expectorante, indicado para qualquer pessoa que esteja gripada ou tenha problemas de bronquite.

Edson frisa, porém, que o vinho de mel não é feito apenas com o mel da cana-de-açúcar. Em suas experiências, já produziu o vinho com mel de laranja, de eucalipto e silvestre. “Todos eles dão um ótimo vinho. Um vinho de boa qualidade, que merece ir à mesa.” Apicultor há 13 anos, Edson conhece muito bem o trabalho das abelhas e explica que “se ela vai até uma planta buscar o néctar é porque aquela planta é boa. A abelha trabalha do mesmo jeito com todas as plantas. O processo para se fabricar o mel é igual. Então por que não consumir o mel da cana-de-açúcar?”, pergunta.

Segundo ele, a abelha vai até a cana buscar a mela quando ela é queimada e começa a trabalhar para fabricar o mel. Apesar do processo de transformação ser o mesmo, Edson salienta que a composição do mel da cana é diferente da composição do mel da laranja, por exemplo. “Mas não deixa de ser menos nutritivo que o mel da laranja. Ele é um alimento indispensável para a alimentação do homem.”

Contudo, a falta de informação sobre a qualidade do mel de cana-de-açúcar — até por parte dos apicultores para com o freguês — faz com que o produto fique na prateleira, ou melhor, ficasse na prateleira.

VINHO À VENDA

O nome científico do vinho é Hidromel = mel com água. Ele é proveniente do mel com água fermentado por leveduras alcoólicas, sendo que os açúcares do mel são transformados total ou parcialmente em álcool (etanol). Para se fazer um bom vinho, Edson Franzoni descreve algumas prioridades: é preciso ter fermento selecionado; a água ser isenta de cloro e impurezas; o mel deve ser maduro e bem filtrado; ter um bom pé de fermento; ter uma boa higiene com o material a ser usado e saber controlar a fermentação para não haver contaminação.

Tomando os cuidados básicos, Edson diz que depois é preciso muita atenção para a fermentação do vinho. Durante o processo, o pé de fermento é alimentado com uma mistura de mel mais água, que se chama mosto. O mosto é corrigido com um aparelho que se chama aerômetro ou refratrômetro, cuja função é fazer com que o mosto alimente o pé de fermento. “O fermento consome os açúcares e se transforma em álcool. Depois da fermentação surge o vinho que não é destilado como a pinga,” observa.

A etapa seguinte é filtrar o vinho, separando-o do fermento e colocando-o em barris de carvalho para envelhecer, pelo menos por seis meses. Só depois é que será colocado à venda. “Depois da fermentação é preciso fazer algumas análises, assim como depois de estar envelhecido, para ver se está bom para ser consumido.”

As análises que Edson faz são para verificar o grau alcoólico, o PH, a acidez, enfim a qualidade do vinho de mel para que o consumidor não seja enganado. “Esse vinho é produzido em pequena escala no Brasil e por pouquíssimos apicultores, como eu,” esclarece. Mas os vinhos de mel que Edson produz podem ser conseguidos na barraca do mel, no Mercado Municipal, onde há muitos outros tipos de produtos da abelha.

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