Informações sobre o tesouro do Passo da Paixão

O consagrado artista plástico Archimedes Dutra, estudioso da arte piracicabana, elaborou um texto, datado de 2 de abril de 1977, em que faz a síntese histórica e a explicação do “Passo de São Vicente”, monumento histórico de rara importância, localizado na rua Prudente de Moraes. Segue o texto, cujo título é “Informações sobre o Passo São Vicente de Paulo, de Piracicaba”:

“Depois de longas buscas, tanto nos arquivos da Diocese de Piracicaba como nos registros constantes dos Cartórios da cidade, concluiu-se que o “Passo da Paixão”, ainda existe em nossa cidade, não pertence à Diocese e nem, tampouco, aos Poderes públicos municipais. Na escritura de venda de um terreno, pertencente a Dona Ambrosina Ferraz de Campos, situado na esquina da Praça José Bonifácio com a rua Prudente de Morais, consta a reserva absoluta de uma pequena área, medindo 3,15 por 3,35 m., encravada no terreno vendido, com frente tomada no próprio alinhamento da rua Prudente de Moraes, na qual, desde 1873, ergue-se o “Passo São Vicente de Paulo”, importante peça das cerimônias religiosas da Semana Santa, em Piracicaba.

O Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (CONDEPHAT), por ato do Exmo. Sr. Dr. Ruy de Azevedo Marques, seu D.D. Presidente, atendendo à importância artístico- religiosa dessa obra que, pela mesma razão, a havia sido, anteriormente, levantada fotograficamente, em todos os seus ângulos e detalhes, pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, do Rio de Janeiro, “SPHAN”, não teve dúvida em proceder ao tombamento dessa peça arquitetônica, reservando ao Governo do Estado a posse definitiva da importante construção que nos vem dos tempos da Imperial Província de São Paulo.

Com tal providência, o “Passo São Vicente de Paulo”, de Piracicaba, obra projetada e executada por Miguel Arcanjo Benício da Assunção Dutra, o Miguelzinho (1873) passou a pertencer ao Governo do Estado de São Paulo e, como peça do seu patrimônio oficial, por tombamento, está totalmente protegida contra as leviandades possíveis, que constantemente animam o espírito de muita gente.

Como remanescente deste curioso tipo de construção, lembrando etapas gloriosas da Paixão de Cristo, nas procissões da Semana Santa, restam apenas dois, da antiga Província de São Paulo: um, em São Sebastião, no litoral paulista, e este, de Piracicaba. Singelo na sua fachada, que se ergue no próprio alinhamento da rua Prudente de Moraes, nas proximidades do Marco da Bandeira é, no entanto, de ótima estrutura interna. Apresenta porta trabalhada a formão com grande desenvoltura técnica na execução dos seus medalhões. No bem proporcionado altar, montado em branco e ouro, mostra uma perfeita harmonia no lançamento dos entalhes de caráter barroco como, também, põe com maestria no nicho dessa peça uma bela “imagem de roca”, fixando a figura de Cristo no Horto, tendo às mãos o cálice da amargura. Embaixo, a simbólica figura do menino que empunha o cálice da consagração da missa é muito bem esculpida, em cedro.

Em síntese, esta é a história do “Passo São Vicente de Paulo”, de Piracicaba, do qual tenho os desenhos originais, datados de 1873, e as provas fotográficas de todas as suas peças, a mim oferecidas pelo serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – SPHAN, do Rio de Janeiro. nO sr. Homero Paes de Athayde, quando Prefeito de Piracicaba, simplesmente confiou ao nosso Instituto Histórico e Geográfico a chave dessa construção que recebeu do CONDEPHAT os serviços técnicos de restauração.

Piracicaba, 02 de abril de 1977, Archimedes Dutra.”

*-Archimedes Dutra, um dos mais completos artistas plásticos de Piracicaba em todos os tempos.  A chave do Passo, atualmente, está sob a guarda do Vigário da Catedral de Santo Antônio, atualmente Mons. Jamil Nacif.

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