Casório na igreja verde.

Era naquela tarde em que o sor parece que vai mai num vai. Era como expricava Tangará, o véio, rei dos pescador: “Vivê aqui na bera do rio é tão bunito que até o sor num qué imbor, cum medo da noite. O sor é friolento e pur isso fica gudunhando lá detrais dos monte, gudunhando nas foia das arvre…Óie como ele amarra o burro de tristeza.”

E o Hélio da Arapuca sempre confirmô. E Tuffi, meu pai, remador dos meió que o Regata já viu, também me dizia dessas coisa bunita do por-do-sor-de Piracicaba. E, agora, eu quero sê contadô dessas buniteza, meu coração batendo de paxão por essa terra, esse rio, esses horizonte. É só vê, os horizonte. Quando se chega perto dium, começa otro. É um horizonte atraís diotro, montão de horizonte que, aqui, num tem fim. Cada um de sua veiz.

Foi numa daquelazora que vi Tangará contá a história da moça que o namorado passô o nabo e, despois, passô a perna nela e, intão, ela malucô. Foi de assim que Tangará contô, talequá:

“Os dois era bunito, o moço e a moça. Mai, por causo que ele era estudante gricolão e ela pobrinha aqui da Rua do Porto, o namoro engasopô. Os pai dela num queria e tinha por causo que o rapaiz ia comê o taio da minina, os doi ia acabá casando na igreja verde, ninguém ponhava dúvida disso. Nem eu ponhei. Foi no que deu: os doi tava teso e ela queria desencabaçá, tava mai que na hora. Quando um num qué dois num briga, mai os doi queria e ele tacô a mecha nela, lá no meio do canaviá. Tuda tarde, os dois ia pro meio do mato e o pau corria sorto. Eu sabia do que tava aconteceno mais güentei firme, puis craro que num sô de futricá vida dozotro. Mais que os doi ia tolá a vaca, lá isso eles ia. E a vaca tolô quando o pai da minina viu que o bucho dela tava cheio, barriga pejada.

Foto: Ulda Zoca de Gava

Ah! seu moço, ocê num ajuiza o tedéu que foi, o arranca-rabo, o cudeboi. Barbaridade, rapai. O pai da minina bateu nela de arreio, dexô ela tuda caracachá, amarela como se tivesse cum tirícia, uma cor de frutacor. Dava uma dó de cortá o coração veno ela com aquele zóio de lumbriga. Mai ela firmô o casco e num cunfundiu cu-cum-cueca: continuô dando o rabo pro rapai, puis gostava dele, quem pode com muié que isprimenta engoli cobra e pega vício?

Aqui, na Rua do Porto, parecia o céu das cabra, c´os demônio tudo sorto. Veio até flera do colégio das flera pra tentá arresorvê o rebosteio. Mais já tava tudo embucetado. Só tinha uma saída: os doi se casá, puis craro! Mai, então, como acontece, o rapai cagô na retranca e num adiantô o pai da moça corrê de atrais dele. O mardicento fez um monte pra cuitadinha e num adiantô chiá contra o purguento. Até eu fiquei cum a pá virada quando sube que ele deu no pé. Ele sumiu no trem dazora e meia e nem oiô pra trais quando a maria-fumaça pitô na curva. A cuitadinha da moça, tão bunita que parecia enfeite de piano, num assentô mai e o pai dela carcava na molera dela, tirava lapa do corpo da minina dia e noite, chamano ela de bruaca e rampera e disgramada diuma puta desvergonhada, Deuzolivre e guarde.

Sabe o que aconteceu? Ela amigô cum sordado, já de bucho cheio e, quando deu cria um minino, chamaro ele de bisturno, qué dizê: “fio de biscate cum guarda-noturno”. Despoi disso, ela se atirô no rio e apareceu morta lá perto do bosteiro, a buça dela tuda comida de pexe.”

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