Piracicaba: um Rio de Assombrações (4)

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(ilustração: Matheus Hass)

O turco que come criança

As histórias sobrenaturais de Piracicaba trazem versões únicas de contos endêmicos no Brasil. É assim com a Noiva da Colina, uma espécie particular de noiva fantasma. A Inhala Seca, uma versão única do Corpo Seco – originalmente masculino. E uma das mais emblemáticas versões do homem do saco: “o turco que come criança”. E para entender a origem desta interessantíssima história, precisamos voltar no tempo. O Brasil escravocrata, da segunda metade do século 19, empreendeu uma política massiva de imigração – facilitando muito a vinda de estrangeiros para o país.

Foi neste movimento que, juntamente aos europeus, os primeiros árabes chegaram à Piracicaba. Habilidosos mascates, desde logo começaram a se relacionar com a população local. A primeira consequência desse contato foi a dos moradores nativos reduzirem todas as denominações de nacionalidades do oriente médio a uma alcunha: “turcos”.

Mas houve outros pontos de conflito. Como bem lembra o mestre Cecílio Elias Netto, o povo simples da cidade não conseguia processar todo o conhecimento trazido do oriente pelos “turcos”. Também não foram pequenos os problemas de comunicação entre os anfitriões piracicabanos e os “turcos”, diante da abissal diferença linguística. E, claro, não demorou para que, o que era um simples problema de comunicação, virar uma ameaça potencial para o povo da Cidade, já que…

Um “turco” começou a aterrorizar pais e crianças de Piracicaba.

A história dá conta de que, por entre as árvores da avenida Paulo Moraes, um canibal vindo do oriente médio espreitava os pequenos herdeiros daquela terra abençoada. Ele esperava crianças desavisadas, desacompanhadas de adultos, passarem. E quando isso acontecia… Ele as agarrava e as colocava em um saco.  A versão piracicabana do homem do saco, segundo relatos, levava as inocentes vítimas para o meio do mato… Picava a criança e a devorava.

A história do turco antropófago ganhava mais eco quando uma criança desaparecia na cidade. Não foram poucas as denúncias de desaparecimentos, tampouco os esforços policiais para encontrar o esfomeado turco.  Mas os inquéritos policiais nunca foram conclusivos. Da mesma maneira, a imprensa da época, em seus periódicos, dava espaço às notícias sobre os possíveis sequestros gastronômicos promovidos pelo turco.

O tempo passou junto ao preconceito com os povos árabes. E como, por magia, turco entrou em dieta e parou de se alimentar de crianças. Mas a história do turco continua alimentando a imaginação dos piracicabanos e de caçadores de histórias assustadoras, como este que vos escreve.

E para quem tiver curiosidade, aqui vai o episódio da história do “Turco que come criancinha”, especialmente editado para o especial Cidades e Medos – Piracicaba: Um Rio de Assombrações.

https://www.youtube.com/watch?v=vLyVP0EF5CM

(continua)

Thiago de Souza é advogado, compositor, roteirista e muito curioso. O projeto “O que te assombra?” está disponível nas redes sociais – YouTube, Instagram, Spotify e Facebook. Procure por: @oqueteassombra ; e encontre: Piracicaba – Um Rio de Assombrações.

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