Quem foi Parafuso?

Entrevista realizada em fevereiro de 1958.

Seu nome no registro Civil é Antônio Cândido, filho de Felício Cândido e de dona Lázara Cândido, nasceu em 19 de fevereiro de 1920, no Distrito de Recreio, município de Piracicaba.

Casado em três núpcias, teve 22 filhos, 14 vivos e 8 mortos.
Aposentado do “Engenho Central” morou em casa própria, no bairro do “Paiêro”, em Piracicaba-SP, começou a cantar em 1938, tomou parte, aproximadamente, em mais de 1000 cururus.

Foi o criador de “nem quem tussa não faiz má”, em São Paulo, no Parque da Água Branca em 1954, teve como segunda o Grande Hilário Galdinho, já morto. Considerava-se, ao lado de Pedro Chiquito e Zico Moreira, o melhor cantador vivo. Para ele os maiores cantadores foram Amâncio de Lara e João David. Superticioso, dizia que Mário Valêncio, cantando contra Eugênio Bueno perdeu a voz, porque o “pessoal de Laranjal” prendeu a sua voz no pilão, isso 20 anos atrás. Cantou por toda a zona do cururu, Jaú, Bauru, Olímpia e nos estados do Rio, Guanabara e Minas Gerais. Foi ganhador dos Torneios de Sorocaba, em 1962, Laranjal e “13 de Maio de Piracicaba”. Gravou vários discos. Leu a “Bíblia”, “História Sagrada”, “Martir do Golgota”, “A vida de todos os Santos”, História do Brasil”, etc.

Em setembro de 1957, Parafuso, foi entrevistado pela revista “Mirante” de Piracicaba. Todas as perguntas foram respondidas de pronto, e ele o fez em versos trovados:

1°. – Onde nasceu?

R. – Fui nascido em Recreio, Fui criado em Caiapiá quando eu tinha nove anos o papai mudou pra cá. E pra não sê bocó de mola o papai me pois na escola pra aprende somá e cantá.

2°. – Qual seu verdadeiro nome?

R. – Por tudo lugá que eu ando me chamo Antônio Cândido meu verdadeiro nome natá.

3°. – Qual a origem do apelido de Parafuso?

R. – O apelido de parafuso veio de quando comecei cantá. Porque deixava a gente confuso virava roda que nem fuso sem tirá o pé do lugá.

4°. – Faz muito tempo que canta?

R. – Faz mais ou menos 18 anos que comecei a trová.E desde que comecei dos meus versos fiz gente pererecá .E sempre dei batida dura aprendi cantá na escritura,que nóis canta de frente ao artá.

5°. – Por onde tem cantado?

R. – Cantei na Capitar de São Paulo que vieram me buscá.Prá saudá o Quarto Centenário e peguei o primeiro lugá cantei na televilsão Record, A Inezita tavá lá,e dela ganhei uma viola e hoje faço o paú quebrá. Cantei no Rio de janeiro. Na capitar Federá, os versinho que eu cantei tuda a vida hão de alembrá. Se as pedra tivesse bôca,eu fazia as pedra chorá.

6°. – Como inventou o “Slogan”: nem que tussa num faiz má?

R. – Eu cantei com Zico Moreira na noite de Natá. Êle tava tussindo muito então não queria cantá. Eu disse: Cante assim mesmo nem que tussa num faiz má.

7°. – A família como vai?

R. – Eu só pai de quinze filhos nesta terra nacioná ,cinco morreu e foi com Deus, porque a morte veio buscá. A morte é a coisa mais valente: Ela chega de repente leva a alma da gente e mata sem esperá. Eu tenho déis filhinho vivo.

24 comentários

  1. Sergio Kaires em 04/12/2014 às 23:03

    Esta historia é top, deveria ser reconhecida como, cultura do Brasil.

    • Terezinha de Jesus em 25/12/2020 às 23:25

      Adoro ouvir o parafuso.
      Senti muito qdo ele faleceu
      Meu sonho é visitar o lugar onde ele viveu

  2. Altair Messias Dos Santos em 27/12/2016 às 13:27

    Precisa fazer um fime contando a historia de Antonio Candido !!
    A

  3. CARLOS HOLANDA em 12/12/2017 às 03:21

    Gostaria de saber se ainda existe festival de cururu no interior de são paulo, alguem poderia me informar ?

  4. Eder Luiz em 12/12/2017 às 16:23

    Conheci um pouco a história do Parafuso por causa da música “Neguinho Parafuso” de Tião Carreiro e Pardinho que meu avô ouvia em seu rádio. Em Laranjal Paulista onde morei ainda fazem rodas de cururu.

  5. Rhander Antonio em 03/01/2020 às 16:14

    Meu bisá, pena não ter conhecido

  6. Carlos. em 21/04/2020 às 15:18

    Gostaria de saber, quando morreu o “Neguinho Parafuso”?

    • Patrícia Elias em 27/04/2020 às 19:42

      Olá, Carlos.
      Segundo pesquisamos, Antônio Cândido, o Parafuso, morreu no dia 2/12/1973. Antes do sucesso como cantor de cururu, ele chegou a trabalhar como lixeiro (coletor de lixo municipal) e foi empregado no Engenho Central. Tem uma praça, na Vila Rezende, com o nome dele.
      Um abraço

    • Wilson Paulo em 15/05/2021 às 21:33

      Nequinho parafuso faleceu 02 Dezembro 1973

  7. Mario Veiga em 21/04/2020 às 16:20

    Linda história de parafuso !!! Fiquei curioso no momento em que ouvi a canção já a.muitos anos ! Tive dúvidas quanto a autenticidade do que dizia a música …daí agora com as coisas mais fáceis ,encontrei está relíquia de entrevista que me fez ir às lágrimas !!! A verdade é que o artista nunca morre !!!

    • Patrícia Elias em 26/04/2020 às 19:41

      Sim, Mário, um artista nunca morre e se faz presente em seu trabalho que pode percorrer gerações.
      um abraço,

  8. wanderlei conceição em 17/05/2020 às 10:37

    Olha… gente; sem comentários, parabéns! Lamento pelo o Brasil um país tão vasto tanto em território quanto em cultura, mas omitida para a nossa gente. Lamentável mesmo.

    • Eduardo da Silva Felix jr em 27/06/2020 às 14:12

      Antônio Cândido, a grande lenda do cururu interiorano , grande repentistas, divulgou por esse interior paulista vasto seus versos entoados com muita presteza , pena que o Brasil não valorize e reconheça seus verdadeiros artistas , moro em Piracicaba há 30 anos , cidade belíssima, a noiva da colina mais linda do Brasil , que foi e é até hoje o verdadeiro celeiro de violeiros e repentistas brasileiros , até hoje ainda se vê rodas de cururu e repentes sendo entoados pelos quatro cantos da cidade !!!! Mas na Vila Rezende existe uma alma violeira diferenciada de toda a cidade !!!!! Perdemos o afamado Moacir Siqueira e recentemente David Vieira , ótimos violeiros e trovadores dos bons !!!! Muitos outros já partiram e consigo levaram seus versos , porém deixaram um legado importantíssimo a música e cultura brasileira !!!

      • Patrícia Elias em 27/06/2020 às 15:26

        Sem dúvida, Eduardo, Piracicaba é um celeiro de riquezas culturais!

        • Eduardo da Silva Felix jr em 28/06/2020 às 21:35

          Ártemis existia o pouso do divino , regado de santidade , viola , cururú e boa comida !!!! Cultura e tradição unindo-se ao Santíssimo , com muita devoção !!!! Repentistas e violeiros cantavam e tocavam seus versos improvisados agradecendo ao Senhor por seus grandes feitos !!!! Lindíssima festa !!!! Sou paulistano com raiz sertaneja !!!! Amo a tradição e a história piracicabana !!!!

          • Eduardo da Silva Felix jr em 28/06/2020 às 21:42

            Saudosos cururueiros como Parafuso, Moacir Siqueira, Milo da Viola, Abel Buemo, Jonata Neto, Pedro Chiquito, Nhô Serra !!! Não podemos deixar essa cultura morrer !!!!



  9. Eduardo da Silva Felix junior em 09/12/2020 às 20:59

    Piracicaba que eu adoro tanto !!!! Todos os dias na região do Cecap , próximo à faculdade Unimep me deparo com os trilhos da linha férrea Sorocabana , lembranças que o tempo não apaga !!!!!

    • LUIZ ANTONIO HENRIQUE em 23/03/2021 às 18:47

      O povo e a secretaria de cultura de piracicaba podia fazer um cidadão tão ilustre que nasceu, viveu e morreu na cidade.

  10. JUNINHO CAIPIRA em 20/05/2022 às 21:46

    Olá, pessoal ! Sou o JUNINHO CAIPIRA, filho do saudoso cururueiro e compositor sertanejo NHÔ CHICO, autor da letra “NEGRINHO PARAFUSO”, letra essa, que o TIÃO CARREIRO musicou e gravou com o PARDINHO… Meu pai era muito amigo do PARAFUSO. Moravam pertinho um do outro, aqui em PIRACICABA/SP. Cantavam juntos em shows naquela época. Eu era criança ainda, mas frequentava a casa dele perto da linha sorocabana. Eu jogava futebol com um dos filhos do PARAFUSO… NHÔ CHICO e PARAFUSO participaram da gravação de um LP intitulado “OS REIS DO CURURU” cantando desafios. O PARAFUSO desafiava e NHÔ CHICO respondia. PIRACICABA parou quando PARAFUSO faleceu. Em homenagem ao amigo, NHÔ CHICO escreveu a letra da moda e declamava em festas com os amigos. Numa dessas festas, TIÃO CARREIRO ouviu meu pai declamando e pediu a letra para ele aprender e musicar. E assim aconteceu. TIÃO CARREIRO e PARDINHO gravaram “NEGRINHO PARAFUSO” – (Nhô Chico/Tião Carreiro) que se tornou sucesso absoluto em todo o Brasil.

    • Patrícia Elias em 27/05/2022 às 06:13

      Juninho,
      muito grata por enriquecer nosso conteúdo com suas preciosas informações.
      um abraço, Patrícia

    • Armando em 04/06/2022 às 19:21

      Olá Juninho…
      Adoro esta música. Ela está presente em todas as ocasiões que estou em algum encontro de família ou com amigos. Sempre me perguntei se a letra fazia alusão a alguma verdade.
      Hoje (04/06/2022), ouvi novamente esta música e decidi pesquisar algo sobre o *Negrinho Parafuso*, graças a Deus me deparei com seu relato. Foi ótimo conhecer mais sobre este grande artista e saber que a música remete a entes verdadeiros. Um grande abraço, estou muito contente.

    • Patrícia em 23/05/2023 às 19:58

      Nossa q prazer saber dessa história através de uma fonte tão segura quanto de nada mais nada menos do que o filho de Nho Chico…muito prazer Juninho Caipira e muito obrigada!!!

    • MICAELA DA SILVA RIBEIRO em 30/09/2023 às 08:45

      Olá, gostaria de fazer uma homenagem para seu e para o parafuso, você conseguiria me dizer o local onde eles foram sepultado?

    • Valtervam Pereira Cunha em 17/09/2024 às 17:31

      Juninho Caipira, Que belíssima homenagem seu pai (NHÔ CHICO), fez para o Negrinho Parafuso. Uma homenagem rica em detalhes, contando todas as proezas e aventuras de um amigo de profissão. Adoro essa música, (Negrinho Parafuso). Se não fosse o seu pai fazer essa música e o Tião Carreiro e Pardinho gravar, ninguém fora da região de Piracicaba iria ficar sabendo da história do Negrinho Parafuso, um exemplo: Eu mesmo moro no Gama-DF, só fui saber da história, porque ouvi a música e resolvi pesquisar. Lhe digo com toda certeza, nenhum artista recebeu uma homenagem tão linda, através de música, como recebeu o Negrinho Parafuso.

Deixe uma resposta