O imortal Parafuso. Por ele mesmo. (1)

Ele se tornou lenda em Piracicaba. Para alguns, foi o maior de todos os nossos cantadores de cururu, cururueiro-mor. Talvez, não o tivesse sido, mas a alegria de Parafuso, seu talento e, principalmente, sua capacidade de comunicação vieram a transformá-lo em lenda e mito, a ponto de ser nome de praça pública. Com um programa na Rádio Difusora e com um estilo humorístico sem paralelo no cururu, Parafuso foi o artista mais popular de Piracicaba nos anos 50 e 60.

Mas quem foi Parafuso? O que as novas gerações sabem dele, num tempo em que o próprio cururu vai morrendo, apesar dos esforços de alguns poucos abnegados, entre os quais desponta Nhô Serra? “A Província” tem-se dado a missão de resgatar a memória piracicabana e, para isso, temos pesquisado livros, jornais, revistas, reavivando o que foi esquecido ou, então, contando o que poucos sabem. Nesta edição, queremos falar de Parafuso. E, para isso, nada melhor do que permitir que ele próprio fale de si, de sua vida.

Em rimas de cururu, Parafuso falou de si mesmo para a Revista Mirante (n. 7, de setembro de 1957). Seguem-se trechos da entrevista obtida por Renan Cantarelli à época.

Parafuso _ foto 1

A entrevista

Onde nasceu?

Fui criado no Recreio, fui criado em Caiapiá.

Quando eu tinha nove ano, o papai mudou pra cá.

E pra não sê bocó de mola, o papai me pois na escola pra aprendê somá e contá.

Qual é o seu verdadeiro nome?

Por tudo lugá que eu ando, me chamo Antonio Cândido, meu verdadeiro nome natá.

E o apelido Parafuso?

Veio de quando comecei cantá.

Porque deixava a gente confuso, virava roda que nem fuso, sem tirá o pé do lugá.

Faz muito tempo que canta?

Faz mais ou meno 18 ano que comecei a trová.

E desde que comecei cos meus verso, fiz gente pererecá e sempre dei batida dura.

Aprendi cantá na escritura que nóis canta de frente ao artá.

Por onde você tem cantado?

Cantei na capitar de São Paulo, que vieram me buscá pra saudá o Quarto Centenário e peguei o primero lugá.

Cantei na Televisão Record, a Inezita tava lá e dela ganhei uma viola e hoje faço o pau quebrá.

Cantei no Rio de Janeiro, na Capitar Federá, os versinho que eu cantei tuda vida hão de alembrá.

Se as pedra tivesse boca, eu fazia as pedra chorá.

E como inventou o “nem que tussa num faiz má”?

Eu cantei com Zico Moreira na noite de Natá.

Ele tava tussindo muito, então num queria cantá. Eu disse: cante assim memo, nem que tussa num faiz má.

E a família, como vai?

Eu sô pai de quinze filho nesta terra nacioná.

Cinco morreu e foi com Deus, porque a morte veio buscá.

A morte é a coisa mais valente: ela chega de repente, leva a arma da gente e mata sem espera.

Eu tenho déiz filhinho vivo e preciso labutá, para o pão de cada dia pros pretinho não fartá.

Naquela fotografia, dois deles não tava lá: foram na casa da avó, porque a avó mandô chamá.

(continua)

Para conhecer o texto completo, acesse a TAG Parafuso.

[Este texto foi publicado, originalmente, em “A Província”, edição impressa de 20/dezembro/1994]

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